terça-feira, 2 de abril de 2024

PORQUE É QUE AS EMISSÕES DE GASES COM EFEITO DE ESTUFA CONTINUAM A AUMENTAR?

Porque é que as emissões continuam a aumentar? 

As consequências das alterações climáticas são conhecidas há várias décadas e os fenómenos como secas e ondas de calor são cada vez mais sentidos. Já vamos quase na trigésima edição da Conferência das Partes das Nações Unidas (COP)¹¹. Contudo, a nível mundial, depois de uma ligeira quebra devido à pandemia da COVID-19, as emissões voltaram a atingir novos máximos. No caso português – como em vários países europeus – as emissões têm vindo a descer, mas a um ritmo insuficiente, e em boa parte devido ao crescimento de emissões noutros países¹². 

Porque é que as emissões continuam a aumentar e porque é que este aumento acontece par-a-par com um maior reconhecimento público da necessidade de combater as alterações climáticas? 

A transição energética implica o desaparecimento dos negócios baseados em combustíveis fósseis como gás e petróleo, e o colapso do valor dos seus ativos económicos, como refinarias e gasodutos¹³. Com a necessidade de gerar cada vez mais e maiores lucros, o sucesso de quem gere as grandes empresas do setor depende de explorar e faturar com cada vez mais combustíveis fósseis, chegando, para isso, a sobrestimar a quantidade das suas reservas¹⁴. 

Por isso, ao longo de décadas, as poderosas multinacionais do setor fóssil bloquearam os esforços de descarbonização, desde cedo suprimindo informação, alimentando a desinformação sobre as alterações climáticas¹⁵ ¹⁶ ¹⁷. Enquanto isso,continuam a investir numa indústria que devia estar extinta. As 20 maiores empresas de petróleo e gás do mundo prevêem investir 932 milhares de milhões de dólares em novos projetos de combustíveis fósseis até 2030 e 1,5 biliões (milhões de milhões) até 2040¹⁸. Também a Galp, a petrolífera portuguesa por excelência, afirma estar preparada para manter “investimento muito significativo” no petróleo¹⁹. 

O falhanço político e institucional de fazer cumprir a descarbonização e proteger as pessoas e o planeta significa que o aumento da produção de eletricidade a partir de fontes renováveis está atualmente associado a uma expansão energética, não a uma transição energética. Ou seja, não está a haver uma substituição do uso de combustíveis fósseis por energias renováveis. Aliás, a fração de energia produzida por fontes renováveis aumentou, mas não o suficiente para compensar o aumento no consumo total de energia, a nível mundial. As multinacionais não reduzem a queima de combustíveis fósseis, apenas produzem mais energia, de forma a expandirem os seus lucros. 

Além disso, os Estados têm vindo a entregar os recursos, que poderiam ser usados para levar a cabo uma transição energética justa, ao setor fóssil. Este conta com décadas de apoios públicos na forma de subsídios²⁰. Em Portugal, várias rondas de privatizações levaram ao afastamento do Estado de vários setores, nomeadamente o energético. Empresas como a Galp, a EDP e a REN deixaram de ser empresas públicas²¹. Além dos Estados terem perdido o controlo sobre as empresas, também perderam capacidade de investimento. Mesmo nas iniciativas mais recentes da Comissão Europeia, ao invés de aumentar a capacidade de investimento público em serviços públicos universais e de qualidade, os subsídios públicos têm sido canalizados para empresas privadas, que falham em fazer cumprir uma transição energética e justiça social²². Este é o caso do Plano de Recuperação e Resiliência e do Fundo de Transição Justa²³. Tudo isto tem tirado a capacidade ao Estado para guiar uma política para uma transição energética alinhada com o interesse das pessoas e do planeta. 

Transcrito de:

https://www.empregos-clima.pt/wp-content/uploads/2023/09/relatorioSITE.pdf