quinta-feira, 30 de março de 2023

AS PESSOAS DA REGIÃO DO BARROSO PRECISAM DA TUA AJUDA!

AS SERRAS E AS ÁGUAS PRECISAM DA TUA AJUDA 🌿💧

Temos até dia 4 de abril para tentarmos travar a Mina do Barroso, um projeto de mina de lítio a céu aberto que já recebeu "não conformidade" pela Agência Portuguesa do Ambiente 2 vezes!! ❌

Há 1 multinacional prestes a destruir cerca de 700 hectares de floresta, em pleno Património Mundial da Agricultura, Covas do Barroso, Trás os Montes. Este é um dos poucos lugares na Europa onde  ainda se faz agricultura sustentável 🌍

Nessa exploração, a empresa iria precisar de usar 570 milhões de litros de água por ano,  quando a água é cada vez mais escassa no mundo, e em Portugal em especial.

Dizem-nos que esta será uma "mina verde", mas todos os estudos demonstram que  as minas de lítio são conhecidas  por destruir os ecossistemas, contaminar os cursos de água e poluir o ar.  

Pedido: *tira 5 minutinhos do teu dia/noite para assinar com "discordância" e partilhar:*
https://participa.pt/pt/consulta/alteracao-ao-projeto-de-ampliacao-da-mina-do-barroso

Para isso, basta clicares no botão "participar", clicar em login, registares-te, e depois de volta à página da consulta pública, já poderás escolher a opção "discordância".

Se formos 100, já é bom. Se formos 1000 a assinar ainda melhor! 

Assina e partilha, por favor 💦🙏🤗 Se quiseres também publicar nas tuas redes sociais o apelo, basta publicares as imagens em anexo. Obs: as imagens referem-se à Mina de Montalegre e à de Covas do Barroso, na medida em que fazem as duas partes da Região do Barroso, que foi considerado Património Agrícola Mundial pela ONU.

Obrigado e até já,   

Minas Não     




quarta-feira, 29 de março de 2023

A REALIDADE DESMASCARA A HIPOCRISIA, A CORRUPÇÃO E A MENTIRA REINANTE

Um confronto feroz coloca a pequena equipe POLLINIS contra a Comissão Europeia e o lobby dos pesticidas.

O que está em jogo é crucial: obter 78 documentos de trabalho – supostamente à disposição dos cidadãos – que a Comissão Europeia se recusa categoricamente a enviar à POLLINIS.

O conteúdo desses arquivos pode revelar que acordos secretos permitiram ao agro-negócio enterrar as benéficas protecções das abelhas contra pesticidas – com a cumplicidade dos governos europeus e da Comissão Europeia.

Mas as autoridades europeias recusam-se a cumprir uma decisão do Tribunal Geral da União Europeia a favor da publicação dos documentos.

Para defender os nossos direitos fundamentais, a POLLINIS apela a si e a todos os cidadãos europeus que a acompanham nesta luta crucial:

Por favor, compartilhe massivamente ao seu redor, e em suas redes sociais, o pequeno vídeo que fizemos para mobilizar o mais amplamente possível, e para que todas as pessoas sensíveis à protecção das abelhas e à luta pela construção da democracia sejam informadas dos compromissos inaceitáveis ​​que o poder político fez com os lobbies das grandes corporações do agro-negócio.


Compartilhe nosso vídeo de alerta em suas redes

Vamos expor os lobbies! Veja o vídeo

Vamos expor os lobbies! Veja o vídeo

Vamos expor os lobbies! Veja o vídeo



É urgente e importante mobilizar.

Porque a Comissão Europeia está a usar todos os meios ao seu dispor para atrasar a sua obrigação de transparência para com os cidadãos:

>> Se cada um de nós conseguir mobilizar três pessoas, rapidamente seremos suficientes para obrigar as instituições europeias a receber-nos e fazer explodir o escândalo.

Por favor, espalhe nosso apelo à acção para trazer justiça às abelhas!

Facebook Twitter Whatsapp Telegrama LinkedIn

Muito obrigado antecipadamente pelo seu compromisso.

A equipe POLLINIS

terça-feira, 28 de março de 2023

1 DE ABRIL: MANIFESTAÇÃO EUROPEIA PELO DIREITO À HABITAÇÃO

Manifestação Europeia pelo Direito à Habitação

 

Manifesto


O Movimento Ar Puro subscreve o manifesto porque as medidas anunciadas pelo Governo não nos convencem. Contra a loucura das rendas e a falta de acesso à habitação, vamos lutar até que toda a gente tenha Casa Para Viver!


No contexto da explosão dos preços das rendas e do crédito, do aumento drástico do custo de vida, da alimentação, das contas de energia, da pobreza e da precariedade, as nossas vidas foram atiradas para uma crise permanente. Não conseguimos pagar as nossas rendas ou suportar os nossos empréstimos bancários. Quem pode morar nas cidades portuguesas, hoje? As rendas em Portugal aumentaram 40% nos últimos cinco anos. Os preços das casas subiram 19% desde o ano passado. Os bancos, que penhoram as nossas casas, duplicaram os seus lucros. Enquanto isto, seguem-se os despejos e as expulsões das nossas casas para longe das nossas comunidades, ao mesmo tempo que florescem os negócios em torno do turismo, do alojamento local e da especulação.


Nós, que dependemos do nosso trabalho para viver, não conseguimos pagar as nossas rendas. Somos populações migrantes, negras e da comunidade cigana, que sofremos racismo e discriminação de forma histórica e sistemática e encontramos ainda mais dificuldade em arrendar casa. Somos jovens que não conseguimos sair de casa dos pais ou a ela temos de voltar. Somos estudantes que temos de deixar de estudar porque os quartos se tornaram impossíveis de pagar. Somos pessoas idosas que se veem obrigadas a abandonar casas e bairros onde vivemos uma vida inteira. Somos mulheres, com rendimentos baixos que corremos maior risco de situações de violência por falta de alternativa de habitação, e quando sozinhas com crianças e rendimentos baixos não temos onde morar e nos sujeitamos à sobrelotação ou tivemos de ocupar. Somos pessoas que sofrem discriminação no mercado de arrendamento pelos mais variados motivos, seja pela nossa identidade de género, pela nossa orientação sexual, por fazermos trabalho sexual, por usarmos substâncias psicoativas ou pela nossa condição física ou mental. Somos gente em precárias condições de vida, somos pessoas que habitamos os bairros, e muitas vezes temos de escolher entre pagar a renda ou pôr comida na mesa. Somos pessoas que já sofremos despejos ou vimos a demolição das nossas casas. Somos pessoas em precárias condições de saúde física e mental, as quais são agravadas por vivermos em sobrelotação, em casas degradadas ou sem condições mínimas de acessibilidade, em abrigos, em constante ameaça de despejo ou nas ruas.


O negócio imobiliário e o governo defendem o aumento da construção como solução para o problema da habitação. É falso! A história mostra que não é o aumento da oferta privada e da construção - que contribui para a emissão de gases com efeito de estufa - que vai baixar os preços. Eis a realidade portuguesa em 2023: ao mesmo tempo que existem 730 mil casas vazias no país, há 2 milhões de pessoas em situação de pobreza e mais de 50% da população em risco de miséria. A desigualdade social no acesso à habitação e a degradação das condições de vida não são inevitáveis leis da natureza. São o resultado de vivermos num sistema capitalista que tem como objetivo a maximização do lucro em vez de procurar garantir as necessidades básicas a todas as pessoas e, por isso, trata a habitação como um negócio e não como um direito básico. Neste sistema político e económico têm-se seguido anos e anos de desinvestimento público na habitação, juntamente com outras políticas concretas de quem nos governa: políticas como os ‘vistos gold’, os ‘residentes não permanentes’, ‘as medidas de atração dos nómadas digitais’, as isenções fiscais ao investimento imobiliário e à construção e reabilitação urbana de luxo, o controlo privado e não democrático do planeamento urbano e a diminuição do poder das e dos inquilinos com a liberalização através das rendas não controladas, a indiferença sobre os milhares de casas vazias existentes nas nossas cidades. Em suma, um problema de ausência de redistribuição e de justiça social.


Por tudo isto nos manifestamos em Portugal no dia 1 de Abril de 2023. Integramo-nos nos Housing Action Days 2023, uma semana de ações e manifestações por toda a Europa pelo direito à habitação, coordenados pela European Action Coalition for the Right to Housing and the City.


Saímos à rua por:


1. DIREITO À HABITAÇÃO:


Significa casa digna para todas as pessoas. Queremos que parem os despejos sem alternativa digna e adequada. Queremos que parem as demolições das nossas casas. Queremos o fim da criminalização das pessoas que ocupam ou que resistem aos despejos. Queremos o aumento da habitação pública, social e cooperativa de qualidade que não implique nova construção sem fim! Queremos o controlo do mercado imobiliário e que se baixem as rendas já! Exigimos que o valor das rendas seja indexado aos rendimentos dos agregados familiares, nunca excedendo os 20%. Queremos o abaixamento e congelamento de juros e lucros dos bancos e impedimento de retirada de habitação de família pelos bancos e instituições financeiras. Queremos o fim real dos vistos gold, do estatuto do residente não habitual, dos incentivos para nómadas digitais e o fim às isenções fiscais para o imobiliário de luxo e para as empresas e fundos de investimento. Queremos a coletivização das casas vazias das empresas imobiliárias, fundos de investimento e grandes proprietários. Queremos o fim dos apartamentos turísticos, as casas são para habitar!


2. DIREITO À CIDADE:


Significa o fim da privatização dos espaços públicos, o ordenamento democrático do território urbano e rural de acordo com as necessidades das e dos habitantes e do meio ambiente, o fim da guetização das pessoas mais marginalizadas e o seu pleno acesso aos centros urbanos, o fim da turistificação e da submissão da cidade ao mercado. Exigimos transportes públicos de qualidade, tempo e acesso à cultura, espaços verdes e sociais de qualidade. Exigimos compromissos sérios para combater os impactos das mudanças climáticas.


3. FIM DA EXPLORAÇÃO E DO AUMENTO DO CUSTO DE VIDA:


Significa a fixação pelo Estado dos preços dos bens e serviços essenciais bem como a gestão coletiva e democrática dos setores essenciais, como a energia, a água, transportes públicos, comunicações e a própria habitação. Fim dos cortes de eletricidade. Aquecimento adequado, energia sustentável e conforto nas nossas casas. Fim da precariedade, dos baixos salários, das pensões de miséria, da degradação do Serviço Nacional de Saúde e do trabalho escravo e sem direitos!


Organiza-te na tua cidade!


Lisboa: 1 de Abril, 15h, Alameda


Porto: 1 de Abril, 15h, Batalha


Coimbra: 1 de Abril, 15h, Praça 8 de Maio


Aveiro: 1 de Abril, 15h, Praça Melo Freitas


Braga: 1 de Abril, 15h, Coreto da Avenida Central


Viseu: 1 de Abril, 15h, Praça da República



Organizações subscritoras


A Coletiva  | ATERRA | Abolir Jatos | A TROCA - Plataforma por um Comércio Internacional Justo | APPA - Associação do Património e da População de Alfama  | Associação de Moradores das Vilas Operárias do Beato | Associação Olho Vivo | c.e.m.- centro em movimento | Associação ComuniDária | Associação de Inquilinos Lisbonenses - AIL | Associação MOLA | Associação de Combate à Precariedade - Precários Inflexíveis | Associação Bairros | Associação Renovar a Mouraria | Associação ForçAfricana | Canto do Curió Associação Cultural | APDES — Agência Piaget para o Desenvolvimento | Braga Fora do Armário | Casa É Um Direito | CIVITAS Braga | CENEA-Circuito Explosivo Núcleo de Expressão Artística | Chão das Lutas  | CIDAC | CEFUM - Coletivo de Estudantes Feministas da Universidade do Minho Coletivo Andorinha - Frente Democrática Brasileira de Lisboa Lutas | Climáximo | Colectivo de Solidariedade Mumia Abu Jamal | Colectivo Marxista | Coletivo Mulheres Negras Escurecidas | Coletivo Dôia Sequeira Coletivo Aldrava | Colombina Clandestina | Consciência Negra | Cooperativa Mula | Convergência | Comissão Organizadora da marcha LGBTQIAP+ (Famalicão, Vizela, Santo Tirso, Guimarães) CIVITAS Braga | Djass - Associação de Afrodescendentes | Esquerda Revolucionária | Chaves Comunitária | GRUPO EducAR — Plataforma de Educadores Antirracistas | Comité de Solidariedade com a Palestina | É hora de agir | Fazer do Bairro a Nossa Casa | FEMAFRO - Associação de Mulheres Negras, Africanas e Afrodescendentes em Portugal | Feministas Em Movimento | Feminismos Sobre Rodas | Fruta Feia | GAIA | Guimarães LGBTQIAmais | Greve Climática Estudantil | Greve Climática Estudantil - Braga | Greve Climática Estudantil - Guimarães | Habita! | HabitAção Barreiro |  Habitação Hoje |  Habitat Açores | Headbangers Antifascistas | HuBB - Humans Before Borders | Humanamente - Movimento pela Defesa dos Direitos Humanos | Iniciativa Cigana | Iniciativa dos Comuns |  ICE—Instituto das Comunidades Educativas | Insubmissas | INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal Jornal MAPA | Jornal Em Luta | Livraria das Insurgentes | Manas | Marcha Mundial de Mulheres |  Morar em Lisboa | Movimento Anti-Racista |  Movimento Referendo pela Habitação | Movimento Virgínia Moura | Movimento Ar Puro | Movimento por Uma Casa | Núcleo Feminista de Évora | Núcleo Antifascista de Guimarães | Núcleo Antifascista de Braga | Panteras Rosa | Ocupa Arroio | Petição pela Proteção do Direito à Habitação | Plataforma Geni | Plataforma Já Marchavas | Porta a Porta - Casa para Todos | Queer Tropical | Rede 8 de Março - Greve Feminista Internacional (Assinatura nacional, 14 Cidades) | Rede de Apoio Mútuo | Rede Afrolink | República Marias do Loureiro  | Recostureiras | Rebelião Climática | Sirigaita | Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL) Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Solidariedade e Segurança Social (STSSSS) | SOS Racismo | Solidariedade Imigrante - Associação para a Defesa dos Direitos dos Imigrantes | Solidários: Trabalhadores Atacados Não Podem Ficar Isolados | Stop Despejos | S.TO.P. - Sindicato de Todos os Profissionais da Educação The Worst Tours | The Revolution Will Not Happen On Your Screen | UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta | Vida Justa | Vizinhos de Arroios - Associação de Moradores | Vozes de Dentro | Zona Franca dos Anjos



Se quiser ver a sua organização nesta lista envie uma mensagem para manif@casaparaviver.pt

Materiais

Poster

Panfleto

quinta-feira, 23 de março de 2023

24 DE MARÇO: DIA DE ACÇÃO GLOBAL EM SOLIDARIEDADE COM O POVO CHILENO


O Chile é a nossa história de ontem e de amanhã, se não fizermos nada para parar a destruição da floresta autóctone e, simultaneamente, criar alternativas à monocultura de eucalipto.  

 
O Movimento Ar Puro junta-se ao dia global de acção em solidariedade com o povo do Chile, e com todas as pessoas que lutam pela justiça social e climática no Chile. Realçando que a origem dos incêndios "florestais" actuais no Chile são as mesmas dos incêndios "florestais" em Portugal: a destruição da floresta autóctone e a monocultura de eucalipto.

Durante o mês passado, mais de 430 mil hectares arderam devido a incêndios "florestais" no Chile. Esta é uma área comparável a todo o distrito de Leiria, 450 mil hectares

As pessoas lembram-se dos incêndios florestais de 2017 em Portugal. E sabem que, desde essa altura, as entidades oficiais nada fizeram para converter a monocultura de eucaliptos em florestas autóctones, nem foram tomadas medidas básicas de segurança, muito pelo contrário, a situação actual é ainda mais propicia a grandes incêndios. Porque também sabem que estamos a entrar no ano de El Niño que vai trazer novas ondas de calor para a Europa.

A Navigator Company é a empresa que emite mais CO2 em Portugal. Portugal é o país com maior área de plantações de eucalipto na Europa e está no 4º lugar a nível mundial. Em termos relativos é o país com a maior área de eucaliptal do mundo. O Chile também está coberto por enormes áreas de eucaliptal, está no 9º lugar a nível mundial. Este processo de eucaliptização foi desencadeado pela ditadura de Augusto Pinochet, contra as comunidades rurais Mapuche. Mais de 400 incêndios florestais devastaram o Chile em Fevereiro de 2023 e as empresas de celuloses (Arauco, Mininco e CMPC) estão impacientes para agarrar nesta oportunidade de negócio para comprar os terrenos ardidos e expandir ainda mais as monoculturas de eucalipto.

Todas as manhãs, um gestor da Navigator Company acorda e pensa: «Como vou transformar um território em dinheiro para os accionistas da minha empresa?» Todas as noites, os detentores do poder e seus serviçais, dormem bem sabendo que estão a empurrar-nos para o caos climático. O caos climático está hoje no Chile, assim como está em Portugal, em ambos os países está a indústria de celuloses a destruir os territórios e a vida às pessoas.  

O Chile hoje é a nossa história de ontem e de amanhã. Temos que juntar forças para parar a destruição.

No dia 24 de Março, participamos nesta acção global de Chile Is Our Story em conjunto com dezenas de organizações pelo mundo inteiro em solidariedade com o povo chileno e com todas as pessoas que lutam pela justiça social e climática no Chile.

O dia global de acção foi convocado pela plataforma This is Our Story, que em Setembro de 2022 lançou acções de solidariedade com as cheias do Paquistão.

O Climáximo organiza uma acção frente à sede da Navigator Company, dia 24, às 17h, Lisboa.


terça-feira, 21 de março de 2023

JOÃO D'ALDEIA - POETA DO VALE DE SANTARÉM

                                            

 

                                                Brevíssima nota

Com a publicação destes dois poemas homenageamos o poeta João D'Aldeia e a Moleirinha - faleceu centenária - que lhe serviu de musa, para o poema que o poeta lhe dedicou.

Do Moinho, nem vestígios / Foi arrasado, por alguém incomodado... 

Poeta do Vale de Santarém, com ligações a pessoas do concelho de Rio Maior, onde fez e alimentou amizades . Tendo, por exemplo, colaborado com o jornal «O Riomaiorense» que publicava os seus poemas.


Em 1946 escreveu


Vivi as ilusões da minha mocidade,

Afectos varonis em altos ideais.

Acreditei no Bem, no Belo e na Verdade

No Dever, no Respeito, em Esperanças imortais.

Acreditei na Vida e pensei na Igualdade,

Acreditei no Homem e na ciência e, mais,

Num mundo só de Amor, de Paz e Liberdade

Na doce evolução d'efeitos fraternais.

Acreditei ... Sonhava e no progresso cri.

Hoje o Homem, voando, ouve telefonia

E o átomo já disse: «Cheguei, vi e venci»

 

Mas... Dever, Honra e Paz - do puro Amor seu guia -

Caíram. E, ao dobrar os meus 60 eu vi

Um mundo sem vergonha e só hipocrisia.

 

 

Um poema lírico, segundo Victor Manoel  Pinto da Rocha, "a que poderemos chamar               

«A moleirinha do Moinho d'Ordem»."

 

Moleirinha prazenteira

Do Moinho da Ribeira

Onde há lírios amarelos; 

Com teu mimo e tua graça

Olhando a água que passa

Onde vão teus olhos belos?

Onde vão, ó moleirinha

Da cor da alva farinha? ...

Teus fulvos olhos d'amor

Cabelos da mesma cor

Que o áureo tom acarinha,

Uns são rubis, ou esmeraldas, 

Outros formam grinaldas

No rosto cor da farinha.

Se pousas as mãos vestais

Sobre as dobras da cambeira, 

Não há cores desiguais:

É tudo farinha alveira.

Que graça tem a Moleira

Do Moinho da Ribeira!

Com seus braços remangados  

Volta a farinha por gosto

Que tem a cor do seu rosto

E dos braços cobiçados;

Se o colo mostra, ao desdém,

De quem o oha se amua

Porque semelha, também,

A farinha cor da lua.

Nuvem branca, níveo astro,

É seu colo de alabastro!

Sua coma em desalinho

Que a farinha empoeirou

Toma a cor do alvo linho

Que da farinha a tomou ...

Não tendo da touca o abrigo

Que a áurea cor lhe mantinha,

Bela, fulva, cor do trigo 

Agora é cor da farinha ...

Ai a leda Moleirinha 

Dando ares d'uma velhinha! ...

Velhinha ... não, querubim 

Se de ebúrneo marfim

Tem na cútis o primor

A casta açucena em flor

Iguala, d'essa maneira...

Ou então branca pombinha

Da cor da alva farinha

Do Moinho da Ribeira.

Onde há assim moleirinha

Tão formosa e tão fagueira?! ...


Em: Victor Manoel Pinto da Rocha, JOÃO D'ALDEIA - POETA DO VALE DE SANTARÉM, Edição: Junta de Freguesia de Vale de Santarém, 2019, pp. 110, 111, 112, 113, 114.

quinta-feira, 16 de março de 2023

25 de ABRIL: TRANSFORMAÇÕES NAS ESCOLAS E NOS PROFESSORES (VI) - Eduarda Dionísio

Março e Novembro de 75

 

Três dias antes do 11 de Março, reuniam-se, em Económicas, centenas de professores. Era um "Encontro Nacional" promovido pelo Núcleo de Professores do MES. Alguns dos que participaram no Encontro eram militantes, bastantes consideravam-se "simpatizantes", a maior parte não tinha qualquer relação com o Movimento. Apenas reconheciam interesse no Encontro - que vinha na sequência do discurso do "Pelo Poder das Escolas".

O Encontro durou das 9 da manhã à meia-noite, em reuniões plenárias e por secções. Tratou da escola e do sindicalismo dos professores, dos conteúdos e dos métodos de ensino, por graus e por disciplinas, a partir de textos previamente divulgados. Tratava-se, depois deste grande encontro, de os professores presentes promoverem debates a partir das teses e das conclusões, bem como dos textos antológicos" divulgados e "levar à prática as propostas avançadas, devidamente ajustadas às situações concretas e à evolução do processo político revolucionário em curso no nosso país".

Um livro foi rapidamente editado. Vendeu-se facilmente. Reúne um conjunto de materiais que muitos professores usaram nas suas tentativas de "combater a escola burguesa" e de transformar a escola numa outra escola.


                                                      25 de Novembro de 75

 

Muito se tinha andado desde Abril de 74. As escolas já não eram - há muito, parecia-nos - como dantes. Alunos e professores mantinham relações muito mais igualitárias - o que não excluía o conflito. Era normal tratar-se na escola do que se passava fora dela. A fórmula da "assembleia" passou para muitas aulas. As autoridades estavam abaladas.

Não havia rotina nas escolas. As aprendizagens a custo se centravam nas "matérias". Eram outras. Lembro-me dos enormes cartazes com frases de Samora Machel, por toda a escola, a propósito da independência de Moçambique.

O ano lectivo de 74/75 tinha sido, evidentemente, profundamente agitado por todas as questões referidas e muitas outras, mas também por acções violentas, provocadas por grupos de estudantes de direita que andavam de escola em escola. As interrupções de aulas eram constantes - reuniões cada vez menos participadas, greves cada vez mais frequentes. Militares ocuparam a direcção das escolas mais "ingovernáveis". Em 75, os "pais" começavam a organizar-se no sentido de "repor a ordem" nas escolas dos seus filhos, o que passava por "vigiar" os professores, apesar de só em 76 as poucas associações de pais existentes se terem reunido naquilo a que chamávamos a "CAP dos Pais".

Os alunos mais novos, e também, de uma maneira geral, os que não pertenciam a organizações exteriores à escola, e muitos professores, começavam a cansar-se. Os alunos habituaram-se sem dificuldades a decidir sobre (pelo menos) algumas coisas, mas mais cedo do que grande parte dos professores, já não lhes parecia assim tão essencial decidir, ir a reuniões, nem, por exemplo, que as reuniões das comissões directivas fossem públicas - o que tinha sido um grande cavalo de batalha...

Em Novembro de 75, eu pertencia a mais uma comissão sindical, recentemente eleita, cujo programa terminava dizendo: "Só um trabalho de base quotidiano e regular com todos os professores interessados no processo revolucionário e no socialismo em torno de verdadeiros problemas pode dar origem a uma linha sindical consequente e contribuir para a criação dum sindicato democrático e de massas que adquira uma função na luta anticapitalista".

Um mês antes do 25 de Novembro, em resposta a um texto da CDP do Sindicato intitulado "É necessário impedir a desagregação do nosso Sindicato!", a comissão sindical anterior, a que eu pertencia também, tinha divulgado um contratexto, discutido numa reunião alargada e distribuído noutras escolas, onde responsabilizava a CDP pelo avanço de posições "oportunistas" e "contra-revolucionárias", uma vez que, entre outras coisas, não tinha conseguido manter uma posição  coerente no caso da colocação/recondução dos professores (que ainda se arrastava); tinha feito acordos com o MEIC sobre a questão da gestão (cujo decreto-lei entretanto saído não assegurava uma real participação e autonomia); tinha desmobilizado os professores no processo da reivindicação salarial, ao ter negociado os aumentos numa perspectiva "trade-unionista"; tinha apoiado os únicos estatutos que privilegiavam os plenários em detrimento das assembleias de escola; tinha abandonado a discussão da lei da greve, da lei sindical, dos saneamento, dos concursos, das acumulações, etc., etc....

Já se começava, pois, a falar de "desmobilização". Poucos dias antes do 25 de Novembro, a comissão sindical aprovava, nessa escola, uma declaração de princípios sobre gestão democrática, a discutir em assembleia de delegados, que, mais uma vez, afirmava que não deveria haver um único modelo de gestão e que "os modelos de gestão aprovados deverão permitir e fomentar a ligação da escola ao meio e o progressivo controle da escola pelos órgãos de Poder Popular".

No princípio de 76, tiveram lugar as primeiras eleições para o Sindicato dos Professores decorrentes dos Estatutos aprovados. As listas, propostas por 200 sócios, eram constituídas por 50 candidatos. O regulamento ainda dizia que estes não podiam ter pertencido à ANP, UN, PIDE/DGS, MP/LAG, nem ter nenhum processo de saneamento pendente, nem ter pertencido a qualquer direcção de sindicato imposta pelo regime fascista, nem ter interesses financeiros no ensino particular, etc.... Concorreram 6 listas e, pela primeira vez, a direita. Aquela que eu integrei, a B, tinha como lema "Mobilizar. Combater Unir. Por uma Prática Sindical Anticapitalista".

O PCP perdeu a direcção para o PS (que incluía o futuro POUS). Em breve, seria o agravar da desmobilização - que tinha, aliás, começado logo, significativamente, com os aumentos salariais de 75. Mas muitas comissões sindicais e assembleias de escola continuavam - e continuariam por muito tempo ainda - activas, com real influência nas escolas e no Sindicato.

Faltava pouco para começar a falar no "regresso à escola do 24 de Abril".


Em: O FUTURO ERA AGORA - O movimento popular do 25 de Abril, Coordenador: Francisco Martins Rodrigues, Edições Dinossauro, Lisboa, 1994, pp. 190 a 193.

                                                               

quarta-feira, 15 de março de 2023

25 de ABRIL: TRANSFORMAÇÕES NAS ESCOLAS E NOS PROFESSORES (V) - Eduarda Dionísio

O início do ano lectivo de 74/75

 

Foram muitos os professores que não quiseram ter férias em 74. Tomaram "revolucionariamente" para si as tarefas que anteriormente cabiam ao reitor e às secretarias - desde as matrículas à organização das turmas, passando pelos horários e pela organização da escola. Tratava-se de, quando o "Ano Lectivo nº 1" da "Era da Revolução" se iniciasse, ter entre mãos uma escola nova.

O ministério tinha entretanto nomeado uma Comissão de Estudo da Reforma Educativa (para os ensinos primário, preparatório, liceal e técnico, como então se chamavam), presidida por Mário Dionísio e formada por dezenas de comissões de professores dos vários graus e disciplinas. O trabalho consistia não em fazer, por enquanto, a "reforma", mas, em poucos meses, eliminar dos programas a ideologia fascista, introduzir as alterações mais óbvias nas disciplinas mais "desfalcadas" ou mais "marcadas". Quando o ano lectivo começou, os programas não eram já os mesmos do ano anterior, havia "textos de apoio" (em vez dos manuais), "introdução à Política" no ensino complementar, a religião e moral era completamente facultativa.

Mas foi sobretudo nas escolas que se iam dando as grandes transformações. Os professores estavam organizados em "grupos de trabalho" que proliferavam - para tudo e mais alguma coisa - para estudar, propor, pôr em prática. Os "organigramas" - palavra nova - dos novos modelos de gestão escolar" - conceito novo - sucediam-se e eram vivamente discutidos. Tratava-se de assegurar a máxima participação de todos os que trabalhavam e estudavam nas escolas, a maior representatividade de todos em todos os órgãos (todos eles novos - desde os conselhos de grupo aos conselhos de turma, passando pelas reuniões de escola e de sector, etc....), a mais larga "abertura ao meio". Tratava-se de ter nas mãos a escola em que se trabalhava ou se estudava - que se "habitava", como se dizia então -, fazê-la acompanhar o movimento social, a "revolução", quando não até ultrapassar o seu passo... Isto passava-se sobretudo nas escolas que batalhavam, na sequência da Lista B, pela "autonomia" e que eram contra um modelo único de gestão, como o Ministério e a CDP do Sindicato preconizavam.

Todas as transformações (sobretudo as que não coincidiam com os desejos da CDP ou lhe passavam à margem) eram o resultado de "lutas". Era possível ser recebido no Ministério pelos novos responsáveis, sem muito custo nem muita burocracia - uma novidade. Mas impor as propostas que se traziam das escolas e passá-las à prática com "aprovação superior" era sempre o resultado de conversações sem fim... Rapidamente se entendeu que se devia prescindir dessa "aprovação"...

Lembro-me das dificuldades postas pelo Ministério na transformação imediata da nossa escola - que era um liceu "masculino", com uma pequena secção "feminina" numa zona à parte, antes do 25 de Abril - numa escola "mista". argumentos invocados: a falta de "preparação" das mentalidades; os problemas que iriam surgir... Alguns professores mais conservadores, sem se atreverem a opor-se, sugeriam que as turmas passassem a ser mistas, sim, mas que as alunas deveriam ocupar as primeiras filas das salas...

Lembro-me da recusa da escola em receber mais alunos na escola - em nome da "democratização", o Ministério tentava obrigar a fazer turmas de 40 alunos - e como a reabertura de escola só aconteceu muito tarde, depois de uma enorme batalha em que todos participaram e que passou por contínuas informações para os jornais (que as publicavam), pela discussão com os alunos e pais, pela anexação de novos espaços que os professores se propunham gerir. 

Quando as "férias" terminaram, era uma outra escola: as turmas eram mistas, a distribuição dos alunos por turmas e por turnos visava combater a selectividade, a elaboração dos horários atendia sobretudo ao interesse dos alunos, caminhava-se para a semana de 5 dias (antes do 25 de Abril as aulas funcionavam aos sábados) e a recepção aos alunos (até então inexistentes) fazia-se em reuniões de turma (com todos os professores e alunos) que se aproximavam de "assembleias", com mesa, propostas, inscrições, votações, acta, etc...

Os professores da escola tinham respondido a um inquérito, na base do qual os grupos de trabalho eleitos decidiam e punham em prática critérios, depois de ratificados em assembleias. Havia um "caderno reivindicativo" aprovado que ultrapassava em muito as questões laborais e que avançava, por exemplo, para a criação duma creche dentro do liceu (que nunca foi autorizada). Os professores já se tinham manifestado quanto ao fim dos exames e por formas de avaliação contínua. Preparavam em conjunto (e às vezes com os alunos) programas, antologias. Os autores já eram outros. Já havia século XX. Também na escola e nas aulas, já se falava em "exploração", as colónias já não era o "ultramar, havia Leste, América Latina, política, cartazes.

Em Novembro e Dezembro de 74, toda a escola discutia - começando a discussão nas turmas e acabando em RGEs (Reuniões Gerais de Escola, com professores, alunos e empregados) - propostas divulgadas por escrito e da autoria de cada sector, ou grupos de alunos (alguns dos quais se identificavam partidariamente): as questões do saneamento (para o qual tinha sido constituída uma comissão aberta com regulamento aprovado publicamente), a avaliação, a gestão (com número igual de alunos e professores, com a participação de empregados e que incluía "Subcomissões" - cultural, informativa, sonora, técnica, desportiva...), um regulamento interno (utilização dos pátios e dos espaços - não havia sala de convívio -, aulas "abertas", faltas não eliminatórias, abolição das faltas de material e de castigo, material escolar à disposição em cada sala, julgamento de casos disciplinares com a presença dos implicados, etc...).

Simultaneamente, a comissão sindical - que era o motor de arranque de quase todas as questões e iniciativas (e que garantia uma autonomia financeira graças às quotas sindicais que não era difícil cobrar) continuava a divulgar textos e a promover, à noite, colóquios largamente participados onde se confrontavam correntes de opinião distintas e que a imprensa relatava. Lembro-me de  um sobre a "função de um sindicato" que reuniu na mesa pessoas com conceitos bem diferentes (Marcelo Curto, Teresa Rosa, Augusto Mateus, Manuel Gusmão), outro sobre a "função da escola", outro sobre "gestão", outro sobre "partidos". Aos muitos participantes era distribuído material. As pessoas continuavam a aprender. E gostavam do que faziam.

 

Em: O FUTURO ERA AGORA - O movimento popular do 25 de Abril, Coordenador: Francisco Martins Rodrigues, Edições Dinossauro, Lisboa, 1994, pp. 187 a 190.

25 de ABRIL: TRANSFORMAÇÕES NAS ESCOLAS E NOS PROFESSORES (IV) - Eduarda Dionísio

Julho de 74: as primeiras eleições dos Professores

 

Não foi, no entanto, a questão escaldante dos "provisórios" e das suas propostas de "recondução automática" que separou as águas no primeiro processo eleitoral para uma comissão directiva provisória (CDP), que teve lugar em Julho de 74, quando o Sindicato ainda não tinha Estatutos, mas as diferentes concepções de sindicalismo, e também de escola.

Integrei a Lista B, "Pelo Poder das Escolas". Era sobretudo contra a atitude "cupulista" da CDP que nascia, da iniciativa de um grupo de professores que entretanto tinham aderido ao MES (ou que a ele posteriormente aderiram) - entre eles, César Oliveira, João B Serra, José Magno, Margarida Leão, Maria Emília Dinis, Maria Adélia Silva Melo, eu própria, etc.... Eram professores com forte implantação nas escolas onde trabalhavam e reconhecidos a nível sindical por se oporem sistematicamente aos métodos da CIP nas assembleias. A Lista B incluía - muito para lá dos seus promotores e como resultado de um processo totalmente aberto de discussão do programa e da lista (fizeram-se reuniões nos mais diversos locais - desde o 1º Acto de Algés ao Instituto Feliciano de Castilho) e amplamente participado - aqueles que não se identificavam com o sindicalismo que a CIP prosseguia, controlando as bases e manobrando no topo, actuando como lobby junto de um Ministério, onde os militantes do PCP iam consolidando ou adquirindo posições. Na Lista B participaram professores que eram, ou viriam a ser, de organizações que iam do PS ao MRPP, sempre como professores e militantes das escolas e nunca como militantes partidários que traziam para o sindicato uma lógica que lhe era estranha.

O lema da Lista B inspirava-se deliberadamente no "Todo o poder aos cursos" das lutas estudantis de 69, em Económicas. O longo programa (15 páginas), minuciosamente discutidos pelos elementos da lista e proponentes, e posteriormente em dezenas de reuniões de escolas de Lisboa, Santarém e Setúbal, incluía:

- uma"declaração de princípios" onde se lia, entre outras coisas: "o Sindicato dos Professores defronta-se, dia a dia, com um estado capitalista que perspectiva e dirige a organização e conteúdo do ensino e transforma os professores em veículos desse mesmo conteúdo"; (...) "a força do Sindicato reside na implantação que tiver ao nível das bases, o que não provém apenas do peso numérico dos seus membros, mas das garantias que existam do real controlo do sindicato palas bases";

- uma proposta de acção reivindicativa que pressupunha que "Se um sindicato de trabalhadores do ensino não pode existir sem se empenhar na luta pelo poder das escolas, facilmente se perderá se não prolongar essa luta numa actuação na sociedade - e em relação ao Estado a que pertencem as escolas"; e que "o Sindicato de professores defrontará o MEC, numa dupla perspectiva: por um lado tem de fazer valer os interesses materiais dos trabalhadores de ensino que são funcionários públicos - e o mesmo terá que fazer enquanto subsistirem as escolas como fonte de lucro de capitalistas defrontando esses pequenos "industriais do saber" - por outro lado, o sindicato tem de intervir junto ao MEC na definição da política educativa, lutando pela transformação da escola";

- uma proposta de princípios de estruturação sindical, que assentava no poder das Assembleias Sindicais Locais;

- uma proposta de caderno reivindicativo (que incluía a abolição de horas extraordinárias, um máximo de 25 alunos por turma, subsídios de férias e de natal igual para todos, outro horário de trabalho, licença de parto de 3 meses, extensiva às mães solteiras, etc., etc., etc. ...);

- um texto sobre a "Função da Escola na Sociedade" - provavelmente aquele que suscitou debates mais interessantes nas escolas e que constituiu durante mais tempo uma referência para as correntes sindicais que se estruturaram, directa ou indirectamente, a partir deste processo eleitoral. O texto começava por dizer que "É impossível transformar radicalmente a escola sem modificar radicalmente as relações sociais em que ela se inscreve. No entanto, a escola, desde que posta ao serviço das classes trabalhadoras, será também agente de transformação da própria sociedade". E terminava, apresentando uma série de objectivos que a escola deveria prosseguir, o último dos quais era conquistar o "direito da escola responder com formas apropriadas às exigências do meio, por exemplo organizando campanhas de alfabetização, levando os estudantes a tomar contacto na prática com o trabalho produtivo da fábrica e do campo".

Nenhum dos textos era considerado "definitivo"; todos eles poderiam ir sendo alterados pelas assembleias que os discutiam, durante a campanha eleitoral, na base do pressuposto que "cumpre ao sindicato tomar posição quanto à função que o bloco social dominante procurará determinar aos professores".

Seria a Lista A ("Por um Sindicato Único, Pela Unidade de Todos os Professores"), herdeira da CIP, como ela hegemonizada pelo PCP - mas onde participavam, entre outros, elementos que viriam a integrar o POUS e até o PPD (Glória de Matos) - que ganharia, com perto de 60% dos votos, as eleições mais concorridas do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (votaram 20 mil professores) e que ocuparia o Sindicato até 76 (e não por 7 meses como anunciara). A Lista "Pelo Poder das Escolas" obteve 35% dos votos - um resultado surpreendente para o PCP, que não entendia o sindicalismo sem um "aparelho partidário" (neste caso inexistente) por detrás.

a próxima grande batalha seria a dos Estatutos, já em 75 A CDP não conseguiu ver aprovados os seus, num Pavilhão dos Desportos apinhado, donde quer as forças à sua esquerda, quer à sua direita não arredavam pé, em sucessivas assembleias. Lembro-me de que várias vezes saímos de madrugada, directamente para as aulas da manhã, quando alguns maridos de professoras menos habituadas a estas lides nocturnas e recrutadas "contra o totalitarismo" (e não só), já as procuravam, assustados... Ao contrário do que temíamos, dada a extraordinária mobilização da direita nesta luta que parecia "de vida ou de morte", também não foi a Direita que ganhou. Os Estatutos que acabaram por ser aprovados na generalidade eram propostos por um conjunto de militantes da BASE-FUTE. Seguiram-se meses de discussão "na especialidade". Os Núcleos Sindicais de Base (formados pelos sindicalizados de cada escola) continuaram a ser estruturas com importância e previam-se formas de "expressão de tendências".

Em: O FUTURO ERA AGORA - O movimento popular do 25 de Abril, Coordenador: Francisco Martins Rodrigues, Edições Dinossauro, Lisboa, 1994, pp. 184 a 187.

terça-feira, 14 de março de 2023

25 de ABRIL: TRANSFORMAÇÕES NAS ESCOLAS E NOS PROFESSORES (III) - Eduarda Dionísio

O 1º de Maio e a criação do Sindicato dos Professores

 

As pessoas tinham vivido em silêncio. Agora procuravam-se. Algumas tinham-se perdido de vista. Outras nunca se tinham visto. Outras conheciam-se mal. Algumas tinham ouvido falar de outras. Só uma parte dos professores do PCP (e afins) estava organizada nos "Grupos de Estudos" antes do 25 de Abril. Era essa a "legitimidade" a que se agarravam.

Lembro-me de, um pouco ao acaso, imediatamente antes do 1º de Maio, me ter reunido com 4 ou 5 professores de outras escolas na casa de um deles. Dois outros estavam ligados ao PCP, mas não organizados nos "Grupos de Estudos"; rapidamente nos despediríamos.

Nessa noite de fim de Abril, parecia-nos óbvio que era urgente fazer um Sindicato de Professores - assunto de que ninguém falara ainda -, uma vez que antes do 25 de Abril só existia um titubeante sindicato corporativo do Ensino Particular (lutar contra o Ensino Particular viria a ser um objectivo de uma corrente em que me incluía) e era proibida a sindicalização dos "funcionários públicos". Entendemos que deveríamos tomar a iniciativa e convocar os professores para a escadaria do Técnico no 1º de Maio, o que foi simples: bastou telefonar para alguns jornais e dizer o que nos movia. Numa garagem, pintámos um pano que pregámos em dois cabos de vassouras: Pró-Sindicato dos Professores - Ensino Oficial. À hora indicada, estávamos postados na escadaria. Muitos professores ali foram ter. Mas muitos outros estavam convocados para outro ponto, através do aparelho PCP/Grupos de Estudos, ainda hesitante entre a ideia de "Associação" - mais "digna" para uma "classe" como a dos professores... - e a de "Sindicato", que tínhamos lançado e que afinal não parecia assustar ninguém e, pelo contrário, ser muito mais mobilizadora.

Imediatamente, iniciaram-se as grandes assembleias convocadas por uma autonomeada CIP (Comissão Instaladora Provisória) de um (ainda não) Sindicato, que começou torto e nunca havia de se endireitar, mas que passou a ser uma referência para todos os professores, pelo menos até certo momento. Hegemonizado pelo PCP, este Sindicato (que agia como se antes de ser já fosse) não contou, evidentemente, com os contributos de milhares de professores que, mais tarde ou mais cedo, dele se distanciaram. Foi assim que as suas direcções desde o início tiveram de contar com fortes correntes de oposição.

As escolas onde os ex-Grupos de Estudos não tinham implantação, ou onde dominavam concepções sindicais e políticas que se lhes opunham, foram pura e simplesmente postas à margem de um processo onde teriam evidentemente coisas a dizer e a fazer. A manipulação e controle, por parte da Direcção, das assembleias com milhares de presenças, desde cedo começaram a dar ao comum dos professores a sensação de "impotência" em tudo o que ao Sindicato dizia respeito: o que tinha valor em cada escola deixava de ter valor nos plenários de todas as escolas. Em breve, para muitos, os inimigos eram dois, e de igual importância: o Ministério (que não dava resposta às questões premente das escolas) e o Sindicato (que não dava resposta às questões urgentes dos professores). Eram sobretudo as escolas os terrenos da imaginação e das batalhas.

Lembro-me de, num desses "plenários" (como então se chamavam), procurar os subscritores de uma proposta qualquer cuja linguagem fugia ao "padrão" de todas as outras e que, estranhamente, tinha acabado por ser lida (grande parte das propostas das escolas não chegavam a ser lidas pela mesa). Ouvi, pelo meio da confusão a palavra "anticapitalista", que me alertou para uma diferença que ali estava. Encontrámo-nos.

Perdida a hipótese para uma série de gente de participar activamente na formação de um Sindicato - gente que queria que ele funcionasse democraticamente, da base ao topo, que não fosse correia de transmissão de qualquer partido, e que respondesse às situações cada vez mais confusas que os professores e as escolas iam vivendo - as oposições à CIP foram-se alargando nas assembleias tumultuosas (já de delegados) cada vez mais se iam centrando na situação de trabalho precário dos milhares de professores provisórios (não profissionalizados, sem pagamento de férias, sem colocação assegurada) em que o "normal" funcionamento das escolas repousava antes do 25 de Abril, e depois... Era uma luta que mobilizava largos sectores mais radicais, provenientes, em parte, das lutas estudantis recentes.


Em: O FUTURO ERA AGORA - O movimento popular do 25 de Abril, Coord. Francisco Martins Rodrigues, Edições Dinossauro, Lisboa, 1994, pp. 182 a 184.