terça-feira, 27 de abril de 2021

NUCLEAR? NÃO OBRIGADO.

 COMUNICADO DE IMPRENSA
26 de Abril de 2021

 Acidente nuclear em Chernobil aconteceu há 35 anos

Movimento Ibérico Antinuclear assinala esta trágica data e volta a exigir o rápido encerramento da Central Nuclear de Almaraz


Faltavam exatamente 2 segundos para as 2 horas e 24 minutos do dia 26 de Abril de 1986 quando o reator nº4 da Central Nuclear de Chernobil, e o edifício onde estava instalado, foram devastados por uma sucessão de explosões. Acabava de acontecer o mais grave acidente nuclear do século XX. As suas consequências de uma dimensão dramática ainda hoje não são suficientemente conhecidas.

Nos dias seguintes, a nuvem radioativa irá atingir os países da Europa Central, seguindo-se a Bélgica, a França e a Inglaterra. O aumento dos níveis de radiação foi observado, ao longo da semana seguinte, em países como a Índia, o Japão, o Canadá e os Estados Unidos. O acidente ocorrido na Ucrânia estava a contaminar todo o Planeta.

Ainda que o acidente tenha ocorrido em território ucraniano, é a Bielorrússia o país com a maior superfície, em percentagem, contaminada: Quase um quarto (23%) do seu território, com parte substancial das suas florestas e lezírias, estão situados na zona contaminada.

A União Soviética de que, à época, a Ucrânia e a Bielorrússia eram parte integrante, enviou para o local centenas de milhares de “liquidadores”, os indivíduos encarregados de mitigar as consequências, gente sem preparação nem proteção adequada. Apenas do lado da Bielorrússia, que contribui com mais de 110.000, mais de 80% morreram até 2003. Provavelmente nunca se saberá o número exacto de vítimas, mas seguramente são muitas centenas de milhares. Sobre o reator, no seu sarcófago, nada se sabe.

A história tem mostrado que é muito difícil de prever o desenrolar de acontecimentos como os ocorridos no grave acidente nuclear de Chernobil e que a gestão das centrais nucleares e dos resíduos aí produzidos, que têm de ser mantidos e vigiados durante milhares de anos, é uma herança com futuro incerto legada às gerações vindouras.


Portugal e o seu contributo contra o nuclear

No combate ao nuclear, Portugal deu um contributo importante na luta antinuclear ao encerrar há 20 anos, em 2001, a atividade mineira de exploração de urânio que decorreu sobretudo no centro do país, e ao não construir nenhuma Central em Ferrel, conforme esteve previsto nos anos 70 do século passado.


A Central Nuclear de Almaraz

O triste dia, que hoje se assinala, deveria fazer-nos reflectir seriamente sobre a Central Nuclear de Almaraz, localizada a cerca de 100km da fronteira com Portugal e junto ao rio Tejo, uma vez que esta situação apresenta inquietantes semelhanças com a ocorrida na Bielorrússia, país também com 10 milhões de habitantes e que também não possui centrais nucleares mas, no entanto, foi o mais castigado e onde as doenças oncológicas registaram aumentos da ordem de 75 vezes mais.

A Central de Almaraz continua a revelar-se como um potencial perigo em especial para toda a região transfronteiriça dado que já ultrapassou o seu período normal de funcionamento e, não obstante, viu prolongado em 10 anos o seu período de actividade, até 2020, e agora, o Governo Espanhol pretende estender este período por ainda mais 8 anos! Apesar de todos os incidentes que têm ocorrido nesta Central Nuclear, e da sua já longa vida (já mais de 40 anos de idade), o consórcio de empresas que a explora pretende, com a conivência do Governo Espanhol, prolongar ainda mais o seu período de funcionamento, até 2030, pelo menos. É uma temível bomba-relógio que nos ameaça e que, tranquilamente, continuamos a ignorar.

 

O triste historial do Nuclear

Já em 1979 tinha existido um acidente grave na Central Nuclear de Three Miles Island, nos Estados Unidos da América, e mais recentemente, em 2011, outro grave acidente ocorreu, desta vez na Central Nuclear de Fukushima no Japão, tendo este sido também um dos mais severos da história do nuclear. Temos assim os três maiores acidentes nucleares da história (estes dois e o de Chernobil) em três dos países mais avançados nas tecnologias da indústria nuclear e é pois importante refletir sobre os problemas de segurança inerentes a este tipo de centrais. Para culminar toda esta história trágica que é a do nuclear, o Japão prepara-se agora para lançar no Oceano Pacífico milhões de litros de água contaminada, oriunda do arrefecimento dos reactores acidentados.

A opção pela fissão nuclear é contrária ao princípio da precaução e põe em causa a norma ética da equidade transgeracional e da segurança nacional e transnacional, sendo que à luz dos atuais conhecimentos, esta opção não é uma solução energética aceitável devido aos seus gravíssimos impactes no ambiente e na saúde humana. Neste dia simbólico, em que se assinalam os 35 anos sobre o acidente nuclear de Chernobil, é pois importante continuar a alertar para os riscos que esta forma de energia comporta, e para a urgência de nos indignarmos contra esta estranha forma de loucura que atingiu o ser humano. Para que Portugal e o mundo fiquem menos expostos aos perigos do nuclear.

De Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura em 2015 (“As vozes de Chernobyl” – Ed. Elsinore) transcrevemos: “A mesma terra, a mesma água, as mesmas árvores…no entanto…ao entardecer, vi os pastores a tentarem encaminhar o rebanho cansado para o rio, mas as vacas voltavam para trás, mal se abeiravam. De alguma forma apercebiam-se do perigo. Disseram-me também que os gatos deixaram de comer ratos mortos. A morte escondia-se em todo o lado, mas era uma morte diferente. Sob novas máscaras. Com um disfarce desconhecido.”


Lisboa, 26 de Abril de 2021


A Comissão Coordenadora do MIA em Portugal





sábado, 24 de abril de 2021

25 DE ABRIL, 1974


 

 ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA EM SANTARÉM.

NA CASERNA:

- A PÉ PESSOAL! ESTAMOS A ACORDAR!

- ?!

- MAS... É UMA DA MANHÃ... É MAIS UMA NOITE DE INSTRUÇÃO?

- SÃO ORDENS, PÁ! A MÚSICA PASSOU NA RÁDIO JÁ HÁ UM BOM BOCADO...

- MÚSICA... MAS QUAL MÚSICA?

- UMA DO ZECA... PARECE QUE ERA UM SINAL...

-SINAL? É PÁ... ISSO ATÉ PARECE UMA COISA SÉRIA...

- VAMOS JÁ SABER...

- ?? 

- O NOSSO OBJECTIVO É LIBERTAR O PAÍS DE UM GOVERNO QUE SÓ SE MANTÉM À CUSTA DA TROPA...

- CHAMÁMOS-LHE FIM-DE-REGIME. PERCEBEM?

- ... NÓS, OFICIAIS MAIS JOVENS, VAMOS MOSTRAR AO PAÍS QUE O REGIME JÁ PERDEU O SEU APOIO MILITAR!... COMO DIZ O NOSSO CAPITÃO...

- HÁ OS ESTADOS SOCIALISTAS, OS ESTADOS CAPITALISTAS, E AINDA... O ESTADO A QUE CHEGÁMOS! EU PROPONHO-ME ACABAR COM O ESTADO A QUE CHEGÁMOS!

- QUEM QUISER VIR, VAI FORMAR LÁ FORA, NA PARADA... OS QUE NÃO QUISEREM FICAM AQUI. HÁ DÚVIDAS?

NÃO HAVIA DÚVIDAS, TODOS QUERIAM IR, FEZ-SE UMA SELECÇÃO. A MAIORIA DO PESSOAL ERAM CADETES ENTUSIASMADOS...

- VAMOS A ELES! 

- ISTO SÓ LÁ VAI À PORRADA! 

- ESPERA POR MIM!

- O ÚLTIMO APAGA A LUZ!

- (...)

-... AGORA JÁ NÃO HÁ RECUO... `PRA LISBOA!

(...)

UMA ENORME MULTIDÃO CERCA O QUARTEL DO CARMO, ONDE SE REFUGIARAM MARCELO CAETANO E MINISTROS DO GOVERNO. 

CONFRATERNIZAÇÃO ENTRE OS SOLDADOS E AS PESSOAS QUE ENCHIAM O LARGO DO CARMO.

EMOCIONADO E COM ALEGRIA IMENSA, O POVO DE LISBOA COMEMORA POR TODA A CIDADE A QUEDA DO REGIME, EM CADA MÃO UMA FLOR...

... NA BOCA UMA PALAVRA ... LIBERDADE  

 

Em: Salgueiro Maia - O Rosto da Liberdade, Texto e desenhos de António Martins, 1ª Edição, Câmara Municipal de Santarém, 1999. 

TAMBÉM NÃO PODEMOS ESQUECER QUE A DITADURA NÃO CAIU SEM DEIXAR A SUA MARCA: 

A PIDE, NA R. ANTÓNIO MARIA CARDOSO, ESTAVA CERCADA POR POPULARES. OS PIDES DISPARAM, ASSASSINANDO 4 JOVENS E FAZ DEZENAS DE FERIDOS. 

A MULTIDÃO EXIGE O FIM DA PIDE E QUE O MFA ASSALTE AS INSTALAÇÕES E PRENDA OS PIDES. 

NO PORTO A CONCENTRAÇÃO ENVOLVE DEZENAS DE MILHAR DE PESSOAS. A POLÍCIA ENTRINCHEIRA-SE NO EDIFÍCIO DA CÂMARA E FAZ FOGO SOBRE OS POPULARES.

NOTA: A PIDE ERA A POLÍCIA POLÍTICA DA DITADURA FASCISTA E SÓ PERSEGUIA, PRENDIA, TORTURAVA  E MATAVA AS PESSOAS QUE PENSAVAM DE FORMA DIFERENTE DA IDEOLOGIA IMPOSTA PELA DITADURA.  

NÃO PERSEGUIA NEM PRENDIA CRIMINOSOS, MUITO MENOS ASSASSINOS.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Solidariedade com a população da Póvoa da Isenta e com as restantes localidades vítimas da indústria de pecuária intensiva

O Por Um Ribatejo Melhor, assim como os movimentos Ar Puro, Santarém Sem Touradas e a Greve Climática Estudantil solidarizam-se e apoiam a Comissão de Cidadania em Defesa do Ambiente e da Saúde Pública, e a justa luta, das pessoas que vivem e trabalham na Póvoa da Isenta, em defesa dos seus mais elementares direitos, como, por exemplo, a saúde pública, os ecossistemas que sustentam a vida, tal como a conhecemos, o direito a respirar sem que lhe ardam as vias respiratórias, a arejar as suas habitações, usufruir dos espaços exteriores, etc.

Estes movimentos disponibilizam-se também para cooperar com a comissão, trocando experiências e informações derivadas de situações semelhantes em outras localidades, e que apesar dos procedimentos junto a todas as entidades com responsabilidades na atividade suinícola, perduram no tempo: em muitas localidades está a completar meio-século. Isto, porque o problema é inerente ao modo como está estruturado o subsector, isto é, a produção intensiva de suínos, em reduto fechado, tem impactos devastadores em todo o espaço envolvente, tanto na saúde das pessoas, no seu bem-estar e qualidade de vida, assim como nos ecossistemas, nas águas superficiais e subterrâneas, derivado dos espalhamentos sistemáticos nos mesmos solos... Como tal, se persistirmos em enfrentar o problema, caso a caso, como se fosse um problema localizado numa só povoação, e não como um problema geral, estamos a desgastar-nos e a desbaratar forças sem que consigamos que os problemas sejam, de facto, resolvidos.

Imagem de uma das sete lagoas constituídas por efluentes derivados da produção intensiva de suínos