sexta-feira, 11 de março de 2022

Breve retorno ao 11 de Março...

Nos idos de 1975, no dia 9 de Março, apesar de proibido pelo Governo Civil, realiza-se no Porto uma manifestação contra a carestia e os despedimentos, com milhares de pessoas. Um dos oradores afirma que "as ilusões dos trabalhadores após o 25 de Abril se estão a desvanecer, porque o grande capital continua a ser quem manda no país". O cortejo detém-se diante do consulado norte-americano gritando palavras de ordem contra o imperialismo e protesta no comando da PSP pela prisão, por "propaganda ilegal", de dois jovens, entretanto libertados. 

Mais de um milhar de empregados de comércio concentram-se frente ao Ministério do Trabalho reivindicando a generalização do contrato colectivo de trabalho a toda a classe e gritando palavras de ordem: "Os trabalhadores não podem esperar mais!, "Abaixo os latifúndios!", "Vigilância popular!" "Abaixo a reacção!".

A Comissão para a Redução do Leque Salarial na Lisnave/Setenave, que preconiza a redução do número de categorias profissionais e a elevação do salário mínimo de 7 para 8,5 contos, realiza uma reunião de trabalhadores em que denuncia o "boicote à luta da classe operária por parte do pessoal administrativo e chefes de sector". 

 Terminou a greve dos ferrageiros do Porto por terem conseguido aumentos de salários.

Permanecem em greve há oito dias os descarregadores do porto de Leixões, reivindicando condições iguais às de Lisboa. "Queremos que nos considerem homens e não animais de carga".

O Sindicato dos Rodoviários de Lisboa emite um comunicado apelando à "Vigilância contra a CIA" e denuncia o auxílio e donativos da social-democracia alemã "a determinado partido em Portugal".

Plenário de moradores do 2º Bairro de Lisboa pede o desmantelamento dos monopólios, nacionalização da banca e do comércio externo e o saneamento do aparelho de Estado.

Plenário das comissões de moradores do concelho de Sintra reúne 600 delegados que debatem melhoramentos locais.

Ocupação de uma casa para comuna popular em Aveiras de Cima.

Primeira reunião conjunta das Comissões de Moradores dos arredores de Lisboa e Setúbal.

O PS, através de um comunicado de imprensa, afirma compreender a inevitabilidade dos últimos aumentos de preços e assegura que não se entrará "numa escalada inflacionista como resultado de um funcionamento desordenado da economia capitalista".

A 11 de Março dá-se mais uma tentativa de golpe de Estado, chefiado pela facção militar spinolista, com a participação da GNR. O RAL1 é bombardeado e cercado por unidades de pára-quedistas, sendo morto um soldado - Luís, era o seu nome. Dominado o golpe, o general Spínola e outros oficiais fogem para Espanha; prisão de militares de direita. Ao fim do dia, por convocação de vários partidos, grande manifestação no centro de Lisboa. A partir daqui, muitas empresas são ocupadas pelos trabalhadores. Além disso, estende-se ainda mais o movimento de ocupação dos prédios vazios e das grandes mansões abandonadas, transformadas em creches e locais de habitação.

Sob a pressão dos trabalhadores bancários, em greve desde o 11 de Março, o Conselho da revolução, criado na véspera, decreta, a 13 de Março, a nacionalização dos sete grupos bancários mais importantes, golpeando os interesses monopolistas ligados ao fascismo. E, no dia seguinte, é garantida a manutenção dos interesses das multinacionais instaladas em Portugal.