segunda-feira, 11 de março de 2024

TRAVAR A CRISE CLIMÁTICA NÃO ESTÁ NA MESA DE VOTO. E AGORA?

Eleições em 2024, com mandato até 2028, sem um único programa para travar a crise climática são um crime contra as nossas vidas e uma confirmação que o próximo governo reterá a guerra declarada pelos governos e empresas contra as pessoas.

Travar a crise climática está na mesa de voto?

Enfrentamos a maior crise da Humanidade. As condições para existir vida humana e das espécies que connosco co-habitam este planeta estão em causa. O nível de violência e sofrimento humano inerente à subida da temperatura média da Terra acima dos 2ºC é para além do imaginável. Porém, há outros caminhos possíveis que não apenas o rumo ao colapso climático.

É possível travar a crise climática.

Começando pelos básicos, é necessário travar o aumento de emissões. Isto implica não avançar com novos projetos que aumentam emissões – gasodutos, aeroportos, etc – e deixar de investir e financiar com dinheiro público a indústria fóssil. Há igualmente diversas medidas que podem ser posta em prática já no imediato, sem um impacto na vida das pessoas e sem comportar uma séria transformação social, mas que permitem por um travão ao aumento das emissões: parar as emissões de luxo, pondo fim, entre outras coisas, ao uso de jatos privados, e acabar com as emissões de consumo sem utilidade social e com um grande impacto a nível de emissões, gasto de água doce, e destruição de territórios e ecossistemas, por exemplo banindo os cruzeiros, “brindes” inúteis, campos de golfe e os voos Lisboa-Porto. Para ser possível fazer estes cortes, é necessário colocar a vida acima do lucro e ter uma política, instituições e espaços públicos livres dos interesses fósseis, direcionando o foco de todas as instituições para a tarefa premente de travar o colapso climático.

Precisamos, não só, de garantir que não há um aumento das emissões, mas sim de garantir um corte de emissões de gases com efeito estufa substancial, para assim alcançarmos neutralidade carbónica até 2030, em Portugal. Tal implica uma grande transformação do modelo produtivo, dos processos industriais, da forma como produzimos energia, e de como a utilizamos, do sistema de transportes, e do modelo de produção agrícola, do sistema alimentar, da gestão florestal e de gestão de resíduos. Para esta mudança acontecer, grande parte do trabalho na sociedade tem de ter esse propósito. Devemos criar milhares de Empregos dignos geridos democraticamente para o clima e a sociedade – os Empregos para o Clima. Para além disto, temos de imediatamente abandonar os Tratados de comércio livre e de investimento, que impedem que as pessoas tomem decisões em prol da vida e dos interesse das pessoas, se estas forem contra os lucros do 1% da população.

Para conseguirmos fazer esta mudança de forma resiliente, ao mesmo tempo que estamos já a enfrentar eventos climáticos extremos, temos de garantir que todas as pessoas têm uma casa, começando por parar imediatamente os despejos e deportações, que exacerbam os efeitos da crise climática na vida das pessoas. Acesso garantido a alimento saudável e autonomia energética são igualmente necessários.

Para além disso, mesmo que Portugal atingisse hoje neutralidade carbónica em Portugal, manteríamos o rumo ao colapso climático através da perpetuação do colonialismo fóssil e do investimento no complexo industrial militar. Não há como por fim a esta guerra declarada à vida, sem desmantelar estes sistemas de opressão.

Os custos desta transição devem claro ser pagos por quem foi e é responsável por criar e perpetuar esta esta crise – CEOs, acionistas, etc –, não sendo estes que fazem as decisões, mas sim as pessoas, garantindo justiça social.

 

Em: https://www.climaximo.pt/travar-a-crise-climatica-nao-esta-na-mesa-de-voto-e-agora/