DIZ
Diz mulher
ao teu país
como lutaste até hoje
o que fizeram
de ti
o que quiseram
que fosses
Como prenderam teu
grito
sob a boca amordaçada
Mas como cantaste
assim
do teu desgosto apartada
Diz mulher
ao teu país
conta a vida em que
cresceste
Como algermaram
teus pulsos
conta aquilo
que aprendeste
Do saque da tua
vida
relata os dias passados
da cadeia em que estiveste
descreve
o pavor rasgado
as torturas que sofreste
o medo nunca acabado
Diz mulher
ao teu país
como lutaste até hoje
não cales mais
a recusa
do que quiseram que fosses . . .
não silencies
a renúncia
a que te viste obrigada
Não desistas
de gritar
tua vida encarcerada
(De Mulheres de Abril, 1977.)
Em: PORTUGAL - A TERRA E O HOMEM, Antologia de Textos de Escritores do Século XX, David Mourão-Ferreira e Maria Alzira Seixo, II Volume - 3.ª Série, Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, 1981, pp. 309 e 310