quinta-feira, 3 de agosto de 2023

ABATE DE ÁRVORES DE GRANDE PORTE - João Correia


 
Fiquei em estado de choque perante o abate de grande parte destas árvores, pois resido nesta zona praticamente desde que nasci (há 50 anos) e nunca pensei assistir a um grau de insensibilidade e desconsideração desta ordem, a pretexto da aplicação de uma lei que nos deverá proteger do flagelo dos incêndios. 

Por exemplo, qual o contributo de um Carvalho-cerquinho isolado, com 80 cm de diâmetro no pé, a cerca de 3 metros da estrada, para o agravamento de um incêndio? 

Ou qual o racional de remover um renque completo de árvores (Freixos) que ajuda a evitar movimento de massa num talude inclinado junto à estrada, numa zona sem contínuo florestal?

Estes cortes são feitos ao abrigo da legislação de prevenção dos incêndios em vigor, mas muitas suspeitas se levantam quanto ao destino da madeira e às verdadeiras motivações para o corte de umas árvores e não de outras.

Mas, a nível nacional, regista-se o abate de milhares e milhares de árvores, em muitos casos, desnecessário.  

Estes cortes são um rude e decisivo golpe na beleza paisagística, do sombreamento das estradas e da biodiversidade. 

Alguém está a avaliar a forma como se aplica esta lei? Será que está bem feita? 

Será que não se banalizou o corte de árvores de grande porte, algumas centenárias, como se fossem simples ervas que voltam a crescer passado alguns meses, com efeitos muito duvidosos na almejada prevenção de incêndios?

E o que isto acarreta em termos de alteração cultural perante as árvores e a natureza em geral? Não será o Estado a contribuir fortemente para que o cidadão entenda os recursos naturais como coisas descartáveis, com toda a leveza e frivolidade que somos capazes?
 

João Correia