sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A CARTA QUE O MINISTRO DA ECONOMIA RECUSOU ASSINAR


Carta de demissão apresentada pelas ativistas

Face aos recentes protestos de milhares de pessoas na última semana, que reivindicam o “fim aos fósseis no governo, a começar pela demissão imediata do ministro da economia e do mar, António Costa Silva”, apresento hoje, dia 15 de Novembro de 2022, a minha demissão das funções de Ministro.

Partilhando as preocupações ambientais destes jovens que exigem também o fim aos combustíveis fósseis até 2030, reconheço que o que defendia como uma “diversificação da companhia [Partex] com a aposta crescente nas energias renováveis (…)”, se trata na realidade de uma aposta na crescente importação de gás natural, um combustível fóssil que, como alertam os ativistas e a comunidade científica, tem de parar de ser utilizado até 2025 em Portugal caso queiramos evitar o colapso civilizacional.

Enquanto Ministro da Economia e do Mar fui incapaz de desempenhar as funções que se pretendem de um governo, principalmente a da salvaguarda da população portuguesa, tendo proferido palavras que não me seriam permitidas pelo artigo 45 da Lei de Bases do Clima, ao dizer que “Se hoje existirem empresas interessadas em investir nessas reservas e se vieram ter comigo, eu não terei reservas. Eu não penso fora da caixa. Eu não tenho qualquer caixa.”

Para além destes factos, embora saiba das preocupações climáticas da população desde 2019, em particular das gerações mais novas, ignorei-as ao não garantir que o Ministério da Economia, que até ao dia de hoje representava, investisse os 6 a 9 mil milhões de euros de fundos públicos em 200 mil Empregos Para o Clima, o único plano existente neste momento compatível com a crise climática. Em vez disso, defendi o lucro das petrolíferas, tendo inclusive expressado relutância em taxar os lucros extraordinários de empresas como a Galp, que no último ano duplicaram os seus lucros, enquanto a crise do custo de vida se instalava no seio das famílias portuguesas.

Pelos motivos supramencionados, apresento hoje a minha demissão das minhas funções de governo, esperando que o resto do governo e os meus sucessores ouçam as palavras dos estudantes que lutam pelo futuro de toda a população, implementando planos ambiciosos para o combate da crise climática, pondo a sobrevivência, e não o lucro, no centro das suas preocupações.

15 de Novembro de 2022,

[Espaço em branco que ministro se recusou a assinar]. 

Alice Gato, Francisca Duarte, Leonor Chicó, Raquel Alcobia e Teresa Núncio.

Publicada originalmente no Expresso online a 17 de Novembro de 2022