Estudantes de escolas e universidades de todo o mundo estão a planear levar as greves estudantis um passo mais longe e ocupar as nossas escolas e universidades para exigir o fim da economia fóssil. Tirando uma lição dos estudantes activistas nos anos 60, a juventude do movimento pela justiça climática bloqueará a normalidade. Não porque não gostemos de aprender, mas porque o que aprendemos já deixa claro que, sem uma rotura profunda com este sistema, não podemos assegurar um planeta habitável para o nosso presente e futuro.
Porquê ocupar? Porque marchámos. Lançámos petições. Escrevemos
cartas abertas. Reunimos com governos, conselhos e comissões. Fizemos
greves. Enchemos praças, ruas e avenidas com milhares e, no total,
milhões de pessoas em continentes por todo o planeta. Gritámos com todo o
nosso fôlego. Algumas de nós até participaram em bloqueios, sit-ins e
die-ins. E quando parecia que a semente da transformação social profunda
e radical estava a criar raízes no meio das massivas mobilizações
climáticas de 2019, veio o Covid-19, e o nosso ímpeto diminuiu
drasticamente. O que não diminuiu, contudo, foram as emissões de gases
com efeito de estufa, a exploração do Sul global e os lucros
inimagináveis acumulados pela indústria dos combustíveis fósseis.
Não é segredo que o nosso inimigo, a indústria dos combustíveis
fósseis, governa o mundo. E está longe de cair; na realidade, está mais
forte do que nunca. A prova é uma investigação recente do The Guardian
que revelou ao mundo que o império dos combustíveis fósseis tem 195 projectos
de “bombas de carbono” que ameaçam a nossa esperança de limitar o
aquecimento global até 1,5ºC, a barreira de segurança. É verdade: apesar
do espectáculo hilariante dos nossos políticos e instituições na Cop26
em 2021, as maiores companhias petrolíferas estão no bom caminho para
gastar diariamente 103 milhões de dólares em projectos de destruição planetária durante o resto da década.
Além disto, a crise climática não é uma crise justa. Os últimos
relatórios do IPCC mostram que aqueles que são mais afectados pelas
alterações climáticas são os que menos fizeram para as
provocar em primeiro lugar. Como jovens nascidos no limiar da maior
catástrofe da história da humanidade, é nossa responsabilidade histórica
erguermo-nos para a travar. Então, o que é que fazemos? Uma vez que
ceder ao derrotismo nunca será uma opção para nós, temos agora de nos
organizar a uma escala maciça. Precisamos de criar um novo pico de
mobilização, ainda maior do que 2019. Se estivéssemos à espera de um
sinal, é isto. Com temperaturas a subir cada vez mais rápido, nunca
tivemos tanta certeza de que uma mobilização maior do que nunca é não só
possível, mas existencialmente necessária.
Não podemos repetir erros anteriores. Precisamos de ser mais
perturbadores do que nunca, pois essa é a nossa única hipótese de
sobrevivência. A inovação e criatividade de jovens, combinadas com um
apetite feroz pela perturbação e libertação, podem mudar o mundo. Como geração
global de estudantes, precisamos de perturbar a normalidade, e começar
pelos espaços onde temos o poder de mobilizar e organizar – as nossas
escolas e universidades. Por vezes estão directamente implicados no
negócio da destruição, como é o caso de muitas universidades que
investem na indústria dos combustíveis fósseis, tais como Oxford, Stanford,
Princeton, Yale, McGill, Northwestern, MIT, etc. Noutros casos, estão
indirectamente ligadas ao mesmo. Elas formam-nos para um mundo que não
tem futuro, um mundo de capitalismo fóssil. Querem que nos sentemos na
escola e aprendamos como se tudo estivesse bem. Mas o mundo para o qual
estamos a aprender – o mundo que criou a crise climática – não tem
futuro. A grande questão da nossa geração, “Como criar um mundo sem
catástrofe climática?”, não será respondida se nos sentarmos na escola.
A questão fundamental é: não podemos continuar a fingir que está
tudo bem, estudando como se o planeta não estivesse em chamas. Como
outros estudantes fizeram antes de nós – desde os estudantes de Maio de
68 em França até à Primavera árabe, desde a Revolução dos Pinguins Chilenos,
Primavera Secundarista no Brasil e Occupy Wall Street, vamos parar as
nossas vidas normais para mostrar aos nossos governos e à sociedade que
precisamos de mudar tudo, agora. De Lisboa à Califórnia, do Peru à
Alemanha, e de Madrid à Costa do Marfim, apelamos aos jovens para que se
reúnam e organizem uma geração revolucionária internacional que possa mudar o sistema.
Entre Setembro e Dezembro de 2022, ocuparemos centenas de escolas e universidades em todo o mundo para acabar com a economia fóssil a nível internacional sob o apelo à acção “Fim ao Fóssil: Ocupa!”. Convidamos todas as pessoas a se juntarem a nós e organizarem ocupações nas suas escolas ou universidades, desde que sigam os nossos três princípios: ocupação liderada por jovens, enquadramento de justiça climática, e ocupar até vencer. Reanimaremos o movimento estudantil, criaremos novas alianças, radicalizaremos, envolveremos toda a sociedade para apoiar e ocupar, e visionaremos o mundo que queremos – onde a vida e não o lucro estão no centro – através deste momento de acção internacional. Erguer-nos-emos em tom de justiça e libertação para esmagar a indústria dos combustíveis fósseis. Não temos dúvidas: os jovens são um sujeito revolucionário. Vamos inverter a maré, mudar a história, e esmagar a economia fóssil.
Estamos aqui. Somos radicais. Estamos prontos para ocupar.
Artigo escrito e assinado por ativistas envolvidos na ação internacional End Fossil: Occupy!.
Artigo original publicado no The Guardian, a 26 de Julho de 2022.