domingo, 12 de setembro de 2021

Manifesto - Greve Climática Estudantil 24 de Setembro 2021


Manifesto da Ação de 24 de Setembro

Estamos em crise. Nos últimos 2 meses, estiveram mais de 50ºC no Canadá e temperaturas muito abaixo do zero em África, a Alemanha e a Bélgica estiveram debaixo de água¹, e o mar esteve literalmente a arder no Golfo do México². Não é possível negar os efeitos da crise climática nem o falhanço das instituições. 

As alterações climáticas têm causado graves consequências na vida das pessoas, com evidência na falta e redução de qualidade de recursos essenciais, como ar, água, comida e saneamento. A falta de condições dignas à vida é um dos maiores motivos para o agravar de problemas sociais, como guerras e migrações.

Não podem ser sempre as mesmas pessoas a pagar por todas as crises – minorias étnicas, pessoas LGBTQIA+³, mulheres e pessoas trabalhadoras. Como a sociedade em que vivemos é baseada em injustiças sociais, sabemos que, em qualquer crise, não vamos ser todas afetadas da mesma forma. Já sentimos isto no acesso desigual aos serviços de saúde, à habitação, à mobilidade, à educação, ao emprego e às vacinas. 

Estamos todas na tempestade, mas não estamos todas no mesmo barco. A crise climática vai afetar todas as pessoas, mas enquanto que uma minoria brinca aos foguetões, a grande maioria apercebe-se cada vez mais de que não há planeta B.

Não queremos voltar à normalidade, queremos um novo normal. O sistema em que vivemos está baseado no mito de que é possível manter um crescimento económico infinito num planeta com recursos finitos. Temos de romper com uma visão de exploração contínua da natureza e das pessoas. É preciso mudar a sociedade orientada pelos interesses do lucro para uma que tenha a vida no centro. É nosso dever garantir uma transição justa.

NÃO BASTA BAIXAR AS EMISSÕES PARA RESOLVER A CRISE CLIMÁTICA.

Antirracismo 

Não basta baixar emissões, é preciso reconhecer responsabilidade histórica⁴. A questão étnico-racial é determinante na capacidade de enfrentar a crise climática. São as comunidades racializadas tanto do Sul como do Norte Global⁵ algumas das que estão na vanguarda da luta social. 

LGBTQIA+

Não basta baixar emissões, é preciso reconhecer a violência a que a comunidade LGBTQIA+ está exposta, seja ela física ou psicológica. O sistema atual utiliza o preconceito e a intolerância como instrumento político para a marginalização e divisão social, permitindo a exploração e criação de lucro. Assim, esta comunidade sofre em primeira mão com as consequências sociais da crise climática. É necessário criar um novo normal com um planeta presente e futuro seguro a todos os níveis. Sem esta revolução, a nossa vida está em risco.

Feminismo

Não basta baixar emissões, precisamos de uma visão feminista, que coloque o cuidado no centro da vida. Na sociedade patriarcal em que vivemos, o papel de cuidadora cabe apenas às mulheres. Um novo normal distribui o trabalho de cuidados por todas as pessoas, permitindo que a economia esteja focada no usufruir do tempo e num verdadeiro espírito comunitário. 

Sabemos que as mulheres estão em grande desvantagem no que toca aos impactos das alterações climáticas, enfrentando maiores riscos de saúde devido a tempo extremo, a insegurança alimentar, a doenças infeciosas, saúde mental e saúde reprodutiva. É por isso que a luta por justiça climática tem de ser feminista.

Habitação

Não basta baixar emissões, é urgente responder à crise na habitação, um problema estrutural no nosso país. Falamos de problemas como os elevados custos com habitação, as casas desocupadas que o sistema não permite que funcionem como abrigo para as pessoas que delas necessitam, a pobreza energética⁶, as comunidades mais pobres que são sistematicamente afastadas dos centros das cidades. As consequências da crise climática são devastadoras para quem não tem condições básicas asseguradas. Resolver este eixo é crucial para garantir igualdade social. Por isso, para resolver a crise climática, reivindicamos a resolução da crise habitacional. 

Para mudar tudo precisamos de todas as pessoas. Resolver a crise climática exige a maior mobilização social de sempre. Temos a oportunidade de construir uma sociedade que coloque a vida no centro.

Não há tempo a perder e temos tudo a ganhar!

¹ https://observador.pt/2021/07/17/pelo-menos-157-mortos-nas-cheias-que-atingiram-alemanha-e-belgica/
² https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2021-07-03-mar-em-chamas-aconteceu-no-golfo-do-mexico-e-ha-videos-que-mostram-o-incendio-de-grandes-dimensoes/
³ A comunidade LGBTQIA+ envolve todas as diversas possibilidades de orientação sexual e identidade de género que existam. As letras da sigla representam: L – Lésbica, G – Gay, B – Bissexual, T – Trans, Q – Queer, I – Intersexo, A – Assexual.
⁴ Não basta baixar emissões para resolver a crise climática. A justiça climática reconhece que historicamente existem responsáveis por esta crise: os países do Norte Global foram os que emitiram mais gases com efeito de estufa a nível global. Por outro lado, são os países do Sul Global que mais sofrem com as consequências. Assim, é preciso que este corte nas emissões não afete mais quem é menos responsável, e que responsabilize quem é mais responsável.
⁵ O Norte Global é um termo utilizado para se referir ao conjunto de países colonizadores e imperialistas, na sua maioria localizados no Norte geográfico. Em contraste, o Sul Global é um termo utilizado para se referir aos países geralmente do Sul geográfico que sofreram um histórico de colonialismo e neocolonialismo.
⁶ O termo pobreza energética corresponde a uma situação em que um agregado familiar não consegue pagar a energia necessária para manter a sua casa a uma temperatura adequada ou quando é obrigado a alocar uma parte excessiva do seu rendimento para pagar a fatura energética. A pobreza energética é um problema que resulta de má construção das casas, baixos salários e um elevado preço de eletricidade.