segunda-feira, 7 de junho de 2021

BIODIVERSIDADE E CLIMA - Ana Silva


Ecologista/Ativista, porta-voz do proTejo - Movimento pelo TEJO

 

PORQUE É QUE CONTINUAMOS A BRINCAR ÀS CASINHAS MESMO

 QUANDO A NOSSA CASA ESTÁ A ARDER?

Porque é tão importante salvaguardar a Biodiversidade?

Porque é que tão difícil apreender a relação entre degradação e destruição da Biodiversidade e as alterações climáticas?

Porque não sabemos todos ainda, que a Ecologia é uma ciência e não uma ideologia?

Porque é que dizemos que queremos salvar o Planeta em vez de dizer que queremos salvar a nossa própria pele?

Porque decidimos imaginar que não somos Natureza?

Porque é que insistimos em ser o nosso pior inimigo?

E se descessemos à Terra? E se passássemos do egocentrismo ao ecocentrismo?


Ciclos de VIDA/MORTE , CICLOS CLIMÁTICOS e ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

A sobrevivência da espécie humana depende do funcionamento adequado de todos os ciclos ecológicos: em particular da continuidade da união favorável entre os ciclos cósmicos, os ciclos climáticos e os ciclos vitais, da água, do oxigénio, e dos nutrientes.

Estes últimos, iniciaram-se e consolidaram-se com a emergência da Vida no Planeta e evoluíram juntos, estabelecendo interdependências que ao longo de milhares de milhões de anos foram firmando a vitalidade dos ciclos da água, do carbono, do azoto e do oxigénio. Vitalidade que resulta a cada momento, da qualidade da relação intima de dependência entre os ciclos de Vida/Morte e os ciclos climáticos.

A evolução do Clima depende em grande medida, da evolução dos ciclos vitais assegurados pelo funcionamento da Biodiversidade e a evolução dos destinos de todos os seres vivos, depende incontornavelmente, da evolução que o Clima dita ao funcionamento da Biodiversidade.

Em poucas palavras. A evolução do Clima, favorável à continuidade da espécie humana, depende da salvaguarda do bom funcionamentode todo o conjunto da Biodiversidade – diversidade de ecossistemas e diversidade de espécies, aos níveis da diversidade funcional, genética e filogenética.

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Apreender e interiorizar o significado e a abrangência de tudo isto, é um passo primordial para se enfrentar os desafios que se colocam em relação ao Presente e ao Futuro próximo da Humanidade. Nós pertencemos ao conjunto da Biodiversidade e somos biliões e por isso é urgente avaliar de forma consciente e responsável os impactos que as actividades da nossa espécie impõe ao funcionamento dos ciclos vitais. Apurar todos os cambiantes do pensamento que poderão ditar uma Nova Visão do Mundo, um Novo Sonho e uma Nova Paixão, que assistirão à transformação urgente da acção humana, quer colectiva, quer individualmente. Visão que deverá ser permanentemente ajustada à luz do conhecimento da Ecologia do Planeta e que fará a diferença entre uma evolução da Vida, em todo o seu conjunto biodiverso, para melhor ou para pior.

Importa dizer ainda antes de continuar, que é de Ecologia que estamos a falar.

Que a Ecologia não é uma ideologia mas uma ciência com mais de 100 anos. Uma ciência que estuda o modo como funcionam e evoluem em conjunto, a Vida e a casa que a abriga – o planeta Terra. Estuda a forma como o Todo se relaciona com a Vida e como a Vida se relaciona com o Todo, com o objectivo de conhecer os processos e os ciclos ecológicos que determinam o seu funcionamento.

Uma ciência que tem sido considerada politicamente inconveniente e forçada a esconder-se atrás da palavra Ambiente. Ambientes há muitos. Marte também tem Ambiente mas, só terá uma Ecologia se tiver Vida. O que é essencial para a sobrevivência das espécies não é o ambiente, é a Ecologia desse ambiente.

A Ecologia do Planeta evoluiu e continua a evoluir com a evolução da sua Biodiversidade. E por isso falar de Ecologia é falar de Geologia, Biologia, Genética, Química, Física, Climatologia, Astronomia, …Sociologia, Economia, Filosofia, Psicologia, …. E até de Tecnologia, pois ecossistemas artificializados onde a Vida aconteça também são objecto de estudo da Ecologia e importa realçar que a escolha das tecnologias é um ponto chave no que diz respeito à evolução da ecologia do Planeta e logo do futuro da humanidade.

A Ecologia é, ainda hoje, olhada com desconfiança, e não raras vezes, remetida para o caixote do lixo do conhecimento. Vulgarmente, é apenas manca e timidamente aflorada, para melhor poder ser esquecida. Claro que nada disto é inocente mas tem servido de argumento para “descontraidamente continuarmos a brincar às casinhas mesmo quando a nossa casa está a arder”.

É tempo de ousar sair dos limbos da preguiça mental. Recuperar o tempo perdido e escolher apreender a realidade. Não podemos continuar sendo optimistas sem antes ser realistas. Sabemos todos que o incêndio está a ficar cada vez mais incontrolável, os reacendimentos sucedem-se ao sabor do crescendo de destruição e loucura com que o alimentamos. A sua propagação deixa rastos tóxicos visíveis e invisíveis que envenenam o Ar, a Água e os Solos que são as bases que mantêm globalmente ligados, os elos da cadeia da Vida. Cadeia à qual pertencemos e da qual imaginamos poder esquecer que dependemos.

É tempo de reconhecer que evolução é apenas sinónimo de transformação, não obrigatoriamente para melhor. Que a evolução é um processo universal que a cada momento e em cada lugar, resulta do cuzamento do conjunto de todas as dinâmicas em curso e que nunca se repetem exactamente da mesma maneira.

A evolução da Vida no planeta Terra não foge à regra e como foi dito atrás, ela depende da evolução de todos os ciclos ecológicos comandados pelas dinâmicas do infinitamente grande e do infinitamente pequeno: a nossa posição no Universo, na Via Láctea e neste sistema solar são determinantes para a sustentabilidade da Vida no Planeta. Mas, sabemos também o quanto a própria Vida moldou e continua a moldar os seus ambientes e as suas dinâmicas. E sabemos o peso que tem nesta equação o conjunto das nossas pequenas vidas que soma já mais de 7,5 biliões de criaturas cada vez mais, furiosamente determinados a ocupar a posição mais vantajosa possível na corrida ao prestígio. Cada vez mais sem regras, sem limites e com um máximo de urgência.

Sabemos que continuar a ignorar que a “nossa casa está a arder” é a única maneira de autojustificarmos a passividade, a opção por “sabendo, não querer saber”, o egocentrismo exacerbado e a dedicação exclusiva a um “imaginário pessoal pré-fabricado” que nos atrofia a mente e o gesto. Estamos dispostos a sofrer tudo por ele, enquanto cansados e em vão, tentamos abafar a sabedoria da nossa consciência que nos grita que aquilo em que nos estamos a transformar não faz sentido e que, a sobrevivência da nossa espécie depende da acção urgente de todos e cada um de nós. Temos que provar a nós próprios a coragem de mergulhar bem fundo no breu da nossa consciência, reconhecermo-nos no nosso pior e trazer à superfície o nosso melhor. Deitando para o lixo o Egocentrismo e experimentando novos caminhos rumo ao Ecocentrismo.

Começando por separar e tratar informada e conscientemente, o “Lixo Mental” que nos polui por dentro. Se fizermos um tratamento selectivo e critico dos Absurdos que o alimentam, encontraremos neles tesouros escondidos que bem trabalhados nos poderão indicar os caminhos para uma Nova Visão do Mundo e talvez derradeira oportunidade de reprogramar a nossa mente e a nossa acção em prol de um Futuro que faça sentido.

As alterações climáticas são em grande medida, o produto final deste desacerto de escolha entre o nosso pior e o nosso melhor. E podem significar o fim certo de um Sonho Impossível ou o início de um Novo Sonho conduzido por uma Nova Paixão - a Ecologia do Planeta . A escolha não é múltipla, nem depende de um CLIC e exige a saída rápida do impasse e, se milagre houver, terá que ser alimentado por uma ideia apaixonante a Paixão pela Grande Magia que é o bom funcionamento dos ciclos naturais que sustentam a Vida na Terra.

Sabemos o quanto a ganância continua a proliferar, destruindo e ocupando impune e desordenadamente cada vez mais territórios. O quanto o aumento explosivo da população humana e das suas actividades tem introduzido nos ecossistemas, moléculas e processos e estruturas artificiais, exercendo pressões negativas crescentes sobre o funcionamento global de todo o conjunto da Biodiversidade: arrastando a degradação global dos ecossistemas, a degradação e destruição de habitats, a redução da variedade e do número de espécies.

Se queremos que a transição ecológica ocorra a tempo de evitar o pior temos que decidir todos participar nela e para isso é preciso “Renaturalizar o ser humano”.

Não no sentido de recuar ao tempo do caçador-recolector, até porque isso seria impossível por falta de espaço, mas no sentido de reprogramar o seu espírito. Recentrar o seu imaginário sobre a sua essência: não somos entidades artificiais, somos seres naturais, pertencemos ao conjunto da Biodiversidade, e por isso somos Natureza.

Mas então porque insistimos em imaginar, poder separarmo-nos dela?

Deveríamos já todos saber que isso é impossível e que tentar dominá-la, travando um combate contra ela é travar um combate contra nós próprios, do qual nunca sairemos vencedores. O Planeta e a Natureza não precisa de amiguinhos que os salvem, precisam integrar criaturas funcionais alinhadas com o Bem Comum, que mantenham os ciclos dos seus motores em bom estado de funcionamento.

Sabemos já todos, que o nosso futuro pessoal depende do nosso Futuro Comum. Mas depende a montante, da força motriz de cada Vontade Individual, genuinamente comprometida em reavaliar a sua Visão do Mundo. Rumo às possibilidades de um Novo Sonho que faça sentido. Individual e colectivamente alinhado com o Bem Comum.

É urgente acordar esta vontade individual procurando e partilhando informação, conhecimento e soluções, que permitam reunir as ferramentas adequadas para moldar as bases de uma Nova Visão do Mundo partilhada e claramente compreendida. Conscientes de que, só uma Visão partilhada e claramente compreendida e reivindicada por todos, pode conduzir à responsabilidade individual e colectiva de assumir, voluntária e pacificamente, uma Nova Ética conducente a novas condutas e novas estratégias, permanentemente ajustadas com vista a uma evolução para melhor. Quanto mais cedo agarrarmos o desafio, maiores serão as possibilidades de se assistir a uma transição pacificadora, justa e durável, ao contrário do que acontecerá a uma transição imposta por decreto.

Pois esta transformação só será pacífica se for voluntária e suficientemente contagiante para se tornar mobilizadora. Só assim as estruturas de poder se sentirão obrigadas e poderão ser forçadas a acelerar a implementação de uma nova Visão estratégica, também ela, exclusivamente alinhada com a Ecologia do Planeta e com o Bem Comum.

É urgente avaliar as possibilidades de cada escolha, de cada tecnologia, gerindo conscientemente e a cada momento, cada emoção, cada pensamento e cada acção à luz do conhecimento actualizado da evolução da Ecologia do Planeta, da informação mais premente e, das soluções que local e globalmente se revelem ecologicamente mais adequadas, mais justas e mais sustentáveis. Pois as alterações climáticas são muito mais uma consequência dos nossos problemas do que uma causa.

E se descesse-mos à terra?

E se escolhessemos dar outro sentido à forma como pensamos, educamos, produzimos e consumimos?

E se escolhessemos passar do egocentrismo ao ecocentrismo?