quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

NA TERRA DO POUCOCHINHO





Na Terra do Poucochinho

Não. Não é ambição que falta.

Não. Não faltam pessoas imaginativas, criativas, preparadas.

Não. Não faltam ocasiões, oportunidades …

Mas, é assim mesmo; a cultura do poucochinho…Todas as estructuras se chamam quase…qualquer coisa. Quase uma Universidade; quase uma população estudantil integrada; quase uma Associação Académica vibrante; quase uma Associação Comercial agregadora; quase um Museu Distrital, quase um Turismo; quase uma cultura Viva actuante, quase uma Cidade visitável, cuidada, embelezada; lugares de lazer quase entusiasmantes, com sombras repousantes; ruas com pisos quase transitáveis; Instituições culturais quase dialogantes entre si; uma sala de espectáculos quase (in)suficiente; grupinhos de teatro limitado a verbas e vocações a tender para a autonomia mas sempre condenados a permanecer amadores; Unidades Desportivas em orfandade quase permanente; um grupo de canoagem obrigado a remar com os pés para as canoas chegarem à água; um Tejo ignorado, fugidio, reduzido ao fio de água avistado.

Cada um com o seu poucochinho!

Todos, ou quase todos, entregues à boa vontade, iniciativa e carolice de uns poucos que generosamente cedem à Cidade as honras do poucochinho que operaram. Isto com muitos obrigados à CM e congéneres, gratos, venerandos e servidores para que os apoios não falhem nunca. Hipocrisias generalizadas que não deixam perceber que é tudo tão poucochinho….Pensa-se pequenino… faz-se a medo, do partido, do Presidente, do Padre, da Misericórdia, dos directores, dos senhores doutores hierarquizados, das chefias desqualificadas, das fundações, instituições e outros ”ões” que tais… que não fazendo nada, vão concedendo, poderosos, “facilidades”, “autorizações”, instalações… e a Porta do Sol lá continua desde sempre escancarada a todos!

E nesta terra liliputiana, a roda vai desandando… lenta e sempre igual como se os anos fossem todos iguais….festival de gastronomia que voltará de ontem para um amanhã estagnado, feito do mesmo … e sempre poucochinho. Este povo continua a dormir, tal como o grande Guerra Junqueiro, o descreveu em 1896: «Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas»

Manuela Marques