segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Estar em Sociedade

 
“O Homem é um ser eminentemente social”

Pergunto se não estaremos abusando deste uso…

Não é que o convívio não nos estimule. Mas falta-nos, verdadeiramente, aquilo a que chamamos o estar em sociedade?

Se esse modo de estar for o conceito de ver e ser visto, cumprimento de circunstância, linguagem pró-forma na palavra e no gesto, simpatia quanto baste para que se não confunda com indiferença ou antipatia, sorrisos de proximidade dentro dos padrões da conveniência, expressões verbais repetidas, exauridas de significado real…e muitos eteceteras mais; Não. Não me parece que isso nos faça falta.

Precisamos muito e sempre, de sentir o outro e de nos fazermos sentir ao outro. Necessitamos de uma linguagem de verdade; de refrescar a terminologia dos afectos. Há muito tempo que as palavras comuns com que nos ligamos ao outro, não nos chegam…”Parabéns”, “sentidos pêsames”, e outras expressões de tão trucidadas pelo hábito, ficaram esmagadas e sem préstimo.

Buscar as atitudes com palavras e actos para transmitir sentimentos amistosos parece ser prioritário, o que pede criatividade, seja na oralidade que surpreenda, ou na atenção que o outro nos merece.

Falamos, olhamos, cumprimentamos distraídos. Não prestamos atenção. Uma atenção que se poderia caracterizar por um pensamento:”Neste momento em que estou contigo, para mim, és o centro da minha atenção – não poderia estar em qualquer outro lugar senão aqui, neste momento presente.”

Difícil? Só o será enquanto não sentires o efeito regenerador de um olhar que pousa em ti para ficar, mesmo que seja por instantes.

São, estes sim, os encontros que nos preenchem.

O cumprimento distraído – Bom-dia-passou-bem-bem-muito-obrigada, do adeus-ó-vai-te-embora-que-eu-tenho-pressa, guardem-nos trancados no armazém das coisas perdidas.

Agora que nos baralharam a expressão, privaram-nos do toque, desmancharam sorrisos, e os gestos morrem no ar, dá mais força ao dizer que acarinhas, admiras, amas...

Atrás do tempo vêm tempos e outros tempos hão-de vir!

Manuela Marques