segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
«MORREU DOM FUAS....» - Poema de Jorge de Sena
EU ME PERDI - Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen
Eu Me Perdi
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
18 JANEIRO - 15H. - PRAÇA JOSÉ FONTANA - MARTIM MONIZ: MARCHA INTERNACIONAL CONTRA O FASCISMO, PELA PALESTINA E A JUSTIÇA CLIMÁTICA
Cercam-nos novas injustiças e as injustiças de sempre.
Fechar os olhos não é uma opção.
A agenda que nos é imposta é a de um pesadelo difícil de imaginar.
É um plano de violência e autoritarismo sem restrições.
É o colapso dos sistemas que sustentam a vida na Terra há milénios.
É tempo de uma grande mobilização internacional que combina as lutas antifascistas, pela libertação da Palestina e por justiça climática.
O fascismo não pode ser travado sem acabar com as guerras.
O fascismo não pode ser combatido sem desmantelarmos a indústria fóssil que alimenta o caos climático.
O caos climático não pode ser travado num contexto de fascismo e guerras.
E as guerras não podem ser evitadas sem travarmos o crescimento do fascismo e pormos fim ao caos climático, que criam as condições perfeitas para novos conflitos todos os dias.
Estes desafios são diferentes facetas da mesma luta!
Este é o primeiro de muitos clamores, com múltiplas vozes, contra o fascismo, o caos climático, o genocídio e a guerra!
Olhos abertos! Avancemos juntas!
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
O LEGADO ISLÂMICO EM PORTUGAL - Cláudio Torres e Santiago Macias
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
O FRANCESISMO - Eça de Queiroz
Há já longos anos que eu lancei esta fórmula: «Portugal é um país traduzido do francês em vernáculo.» A secura, a impaciência, com que ela foi acolhida, provou-me irrecusavelmente que a minha fórmula era subtil, exacta, e se colava à realidade como pelica. E para lhe manter a superioridade preciosa da exactidão fui bem depressa forçado a alterá-la, de acordo com a observação e a experiência. E de novo lancei assim aperfeiçoada: «Portugal é um país traduzido do francês em calão.» E desta vez a minha fórmula foi acolhida com simpatia, com rebuliço, e rolou de mão em mão como uma moeda de ouro bem cunhada e rutilante, que é agradável mostrar, fazer tinir sobre o mármore dos botequins. Jã a encontrei brilhando num almanaque, numa comédia do Príncipe Real e num sermão. Porque foi este novo, carinhoso acolhimento? Quem sabe? Talvez porque a ideia da vernaculidade desagradava, lembrando pedantismo, caturrice, a Academia das Ciências, o pingo de rapé, outras coisas antipáticas. Enquanto que a ideia de calão nos sugere, sobretudo a nós, Lisboetas, chalaça alegre, bacalhau de cebolada, Chiado, Grémio, pescada frita nas hortas, em tarde de sol e poeira, e outras delícias de que eu, ai de mim, estou aqui privado!
Em todo o caso, ou à maneira de Curvo Semedo, o clássico, ou à maneira do Zé Pinguinhas, o fadista, é evidente que há quarenta anos, desde a Patuleia, Portugal está curvado sobre a carteira da escola, bem aplicado, com a ponta da língua de fora, fazendo a sua civilização, como um laborioso tema, que ele vai vertendo de um largo traslado aberto defronte - que é a França. Quem dependurou ali o traslado para que Portugal copiasse, com finos e grosso? Talvez os homens de 1820; talvez os românticos da Regeneração. Eu não fui; tenho sido acusado com azedume, nos periódicos ou naqueles bocados de papel impressos que, em Portugal, passam por periódicos, de ser estrangeirado, afrancesado, e de concorrer, pela pena e pelo exemplo, para desportuguesar Portugal. Pois é um desses erros de salão, em que tão fértil é a frivolidade meridional. Em lugar de ser culpado da nossa desnacionalização, eu fui uma das melancólicas obras dela. Apenas nasci, apenas dei os primeiros passos, ainda com sapatinhos de croché, eu comecei a respirar a França. Em torno de mim só havia a França.
(...)
Começou então a minha carreira social em Lisboa. Mas era realmente como se eu habitasse Marselha. Nos teatros - só comédias francesas; nos homens - só livros franceses; nas lojas - só vestidos franceses; nos hóteis - só comidas francesas... Se nesta capital do reino, resumo de toda a vida portuguesa, um patriota quisesse aplaudir uma comédia de Garrett, ou comer um arroz de forno, ou comprar uma vara de briche - não podia.
Nem nos palcos, nem nos armazéns, nem nas cozinhas, em parte alguma restava nada de Portugal. Só havia arremedos baratos da França. A particular atmosfera de coscuvilhice política, que é tão peculiar a Lisboa como o nevoeiro a Londres, forçou-me, a meu pesar, a embrenhar-me também na política. Em que política? Boa pergunta! Na francesa! Porque havia então em Lisboa toda a classe culta e interessante de políticos «franceses», que, no Grémio, na Havanesa, à porta do Magalhães, faziam uma oposição cruel, amrga, inexorável, ao Império Francês e ao Imperador Napoleão!
Também havia decerto, na Baixa, no Passeio Público, imperialistas, que tinham empreendido a campanha da ordem contra Rochefort e contra Gambetta. Mas era uma minoria. Lisboa toda arreganhava o dente para o imperador. E, naturalmente, eu, moço e ardente, cheio de ideias de liberdade e de república, transbordando de ódio contra a corja dos Rouher e dos Baroche, que proibiam o teatro de Hugo e tinham levado à polícia correcional Gustave Flaubert, lancei-me vivamente na oposição às Tulherias. O que eu conspirei!, Jesus, o que eu conspirei! O meu desejo era filiar-me na Internacional! E lembra-me que uma noite, a propósito de não sei que novo escândalo do império, achando-nos uns poucos no Martinho, em torno de um café, exclamámos todos, pálidos de furor, cerrando os punhos: «Isto não pode ser! Já sofremos bastante. É necessário barricadas, é necessário descer à rua!»
Descer à rua, era a ameaça terrível. E descemos o degrau do Martinho! Depois, na rua, sob o quente luar de Julho, ouvindo os foguetes para os lados do Passeio Público, voltámos para lá os passos frementes - porque um de nós, o mais exaltado, encontrava lá uma certa senhora, em noites de fogo preso.
(...)
Enquanto à política propriamente portuguesa, escuso dizer que nenhum de nós verdadeiramente sabia se o regime que nos governava era a Constituição ou o absolutismo. De tais detalhes portugueses não curavam os filhos de Danton. E enquanto às divisões parlamentares de regeneradores, históricos, reformistas, nem sequer as suspeitávamos, nós que conhecíamos as menores nuances da oposição francesa, e que distinguíamos as pequenas subtilezas de opinião que dividiam Jules Favre e Gambetta, Picard e Jules Simon.
Mas para que hei-de continuar? Não quero escrever uma página de memórias. Apenas mostrar tipicamente como eu e toda a minha geração (exceptuando espíritos superiores, como Antero de Quental ou Oliveira Martins) nos tínhamos tornado fatalmente franceses no meio de uma sociedade que se afrancesava e que, por toda a parte, desde as criações do Estado até ao gosto dos indivíduos, rompera com a tradição nacional, despindo-se de todo o traje português, para se cobrir - pensando, legislando, escrevendo, ensinando, vivendo, cozinhando - de trapos vindos da França!
Esta geração cresceu, entrou na política, nos negócios, nas letras, e por toda aparte levou o seu francesismo de educação, espalhou-o nos livros, nas leis, nas indústrias, nos costumes, e tornou este velho Portugal de D. João VI uma cópia da França, malfeita e grosseira. De sorte que, quando eu, lentamente, fui emergindo dos farrapos franceses em que essa educação me embrulhara e tive consciência do postiço estrangeiro da nossa civilização, eu pude dizer que «Portugal era um país traduzido do francês» - no princípio em vernáculo, agora em calão.
Mas dir-me-ão: «Tudo isso é uma pequena minoria, feita de alguns políticos, alguns literatos, alguns banqueiros e alguns mundanos; a vasta maioria do país, a burguesia das vilas, a gente dos campos, permanece portuguesa, conservando no seu sentir e no seu pensar o fio da tradição, que seria fácil ir buscar lá, para com ele se continuar a tecer a nossa verdadeira civilização de feitio português.»
Nenhum erro maior! Essa vasta maioria não conta. Um país, no fundo, é sempre uma coisa muito pequena: compõe-se de um grupo de homens de letras, homens de Estado, homens de negócio e homens de clube, que vivem de frequentar o centro da capital. O resto é paisagem, que mal se distingue da configuração das vilas ou dos vales. è a gente sonolenta da província, que apenas se diferencia das pequenas vielas, tortuosas e sujas, onde vegeta; são os homens do campo, que mal se destacam das terras trigueiras que semeiam e regam. A única função social é trabalhar, pagar. A direcção de um país é dada justamente por essa minoria da capital.
(...)
O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decide no Chiado que Portugal seja - é o que Portugal é.
Em "O FRANCESISMO"
domingo, 5 de janeiro de 2025
IDEÁRIO PARA A CRIAÇÃO - POEMA DE JORGE DE SENA
AMIGO - POEMA DE ALEXANDRE O´NEILL
Inauguramos a palavra «amigo».
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!