sábado, 18 de dezembro de 2021

1961 - INÍCIO DA GUERRA COLONIAL - FASCISTA

Uma guerra inútil e à partida perdida, como o definiram os próprios comandantes das Forças Armadas de então e que, por isso, foram afastados, pela facção Salazarista. 

Segundo Fernando Rosas, "... a guerra colonial iria originar um duplo efeito contraditório: em termos imediatos, decepada a hierarquia reformista das Forças Aramadas e reposto o controle do regime sobre elas, salvara-o; a prazo, o seu prolongamento, sem solução admissível que não fosse a de continuar, ditaria o fim do Estado Novo, mesmo na sua versão de tentativa liberalizadora que o marcelismo representaria.

Em segundo lugar, ainda que sobrevivendo, o regime não revive, não conquista, como no passado, um novo alento, fruto do restabelecimento da unidade no seu seio e do alargamento dos seus apoios. Salazar tentara ainda a velha fórmula de equilíbrio na sequência da «abrilada» de 1961 chegara a convidar Caetano (que recusa) para ministro da Economia, promovera o jovem reformador colonial, Adriano Moreira, a titular do Ultramar e vai guardando nas pastas económicas alguns marcelistas (como Dias Rosas ou Mota Veiga) ou homens de formação moderna e desenvolvimentistas (como Teixeira Pinto). Mas o essencial era inegociável e incontornável: Moreira é afastado em fins de 1962, mais as suas propostas moderadamente descentralizadoras e reformistas; (...). E todo o regime, essencialmente apoiado na ultradireita civil e militar, colonialista e integrista, se crispa repressivamente, se fecha tanto mais quanto maior é o isolamento interno e externo - «orgulhosamente sós».

A guerra colonial - fascista vai desencadear-se na Guiné-Bissau em 1963 e em Moçambique em 1964, devido à recusa, por parte da ditadura, em negociar a autonomia, com vista à independência, com os movimentos de libertação. 

 A guerra colonial - fascista causou a morte a cerca de 60 mil pessoas, incluindo militares, guerrilheiros e civis, mas permitiu a pilhagem, por mais 13 anos, aos então Donos de Portugal, enquanto a esmagadora maioria das portuguesas e portugueses, que trabalhavam, viviam em condições miseráveis e os seus filhos iam para a destruição e morte. 

Como o demonstra o seguinte relato:

«Chinteya, uma rapariga de quatro anos, assustada, chora Um soldado, simulando compaixão, aproxima-se e, acariciando a criança, pergunta-lhe se estás com fome. Sem, porém, esperar a resposta, continua: "Toma o biberão". E metendo à força o cano duma arma de fogo pela boca da criança, diz: "Chupa! E dispara. A criança cai com um rombo na nuca

 Não foi Chinteya a única vítima tratada assim; várias outras tiveram a mesma sorte.»

Do relatório dos padres da missão de S. Pedro sobre os massacres de Tete de 16/19 de Dezembro de 1972. 

E, como é do conhecimento de todos, a guerra colonial -fascista está na origem do movimento dos capitães que levou a cabo o golpe de Estado que derrubou a ditadura colonial-fascista. Isto é, foi a luta dos movimentos de libertação dos povos das Nações que estiveram subjugadas pelo colonialismo português que contribuíram, decididamente, para o derrube da ditadura colonial-fascista. Esta também oprimia, perseguia, prendia, torturava, assassinava, explorava e mantinha na miséria a esmagadora maioria das portuguesas e portugueses, que sobreviviam da força do seu trabalho.

Fontes: História de Portugal, Direcção de José Mattoso; Autor: Fernando Rosas, VII vol., Círculo de Leitores, 1994, p. 540; e,

Documentos Secretos - Massacres na Guerra Colonial - Tete, um exemplo, Organização, introdução de notas de José Amaro, Edição e Coordenação de José Fortunato: Distribuição: Ulmeiro, 1976, p. 3.