quarta-feira, 25 de setembro de 2024

PROVÍNCIA 1945

O poeta José Gomes Ferreira escreveu, no anos supracitado, o poema que passamos a transcrever:


II

                 

(De repente a Natureza deixou de ser uma visão e surgiu-me como é: real) 

 

Que voz é esta

que vem da floresta

e não do meu coração?

 

Pois os pássaros não cantam apenas

na minha imaginação?

 

Existem em cor e penas

na realidade desta canção

de mim tão alheia?

 

O pássaro autêntico

volta a ser ideia. 


José Gomes Ferreira, Poeta Militante II, Círculo de Leitores, 2003, p. 9

 

Setenta e nove anos depois as vozes, que vem das monoculturas intensivas de madeira industrial, são de abandono, destruição e morte (nove mortos, vários feridos e casas e vidas destruídas, nos incêndios da semana passada). 

Porque a floresta não passa de uma visão, e os pássaros cantam apenas na nossa imaginação... 

Que voz é esta

que não vem da floresta

mas da nossa vontade?

 

Pois os pássaros cantam apenas

na nossa imaginação?

 

Inexistentes em cor e penas 

na realidade desta canção

de mim tão alheia?

 

O pássaro autêntico

volta a ser ideia.

 

E se pegarmos e consolidarmos a ideia, em conjunto, e nisso nos empenharmos voltaremos ter floresta e pássaros de cores, penas e cantares diversos...

Tudo é possível é só querermos... Para isso, é necessário emanciparmo-nos, libertarmo-nos do jugo ideológico hegemónico, escravizador, e juntos e organizados mudamos o mundo para melhor... Onde a justiça seja lei.

Porque, quem espera nunca alcança... Mas, se adoptarmos a máxima de Aquilino Ribeiro: "Alcança quem não cansa", tudo será diferente... 

Estás nas tuas, nas nossas mãos, resgatar o presente e construir o futuro... Este é, sempre foi e será, uma criação colectiva... 

Não permitas que uns quantos, muito poucos, decidam por ti e te manipulem e tratem como mercadoria, um recurso a explorar até ao tutano, e a deitar borda fora assim que já não sirvas os seus gananciosos intentos..