Depois de, no ano passado, ter recuperado a memória há muito perdida de Diamantino Faustino, a Sociedade Recreativa Operária, de Santarém, vai agora homenagear outro seu antigo presidente que se salientou na resistência antifascista: José Manuel Raimundo.
Será este próximo dia 26 de Outubro, sábado, às 18h00.
Na fase final da ditadura, então liderada por Marcelo Caetano, José Manuel Raimundo foi um dos animadores da resistência antifascista na cidade e no distrito de Santarém.
Foi aliás ele quem, em 1973, presidiu ao último comício da oposição democrática na capital ribatejana, antes do 25 de Abril.
Nascido em Santarém, em 1924, José Manuel Raimundo era filho de um antigo democrata republicano. E era tio da professora Luísa Mesquita, que foi deputada do PCP à Assembleia da República e autarca em Santarém.
CDE
José Manuel Raimundo salientou-se em três vertentes da resistência antifascista.
Na vertente política, propriamente dita, foi um dos dirigentes da Comissão Democrática Eleitoral (CDE) em Santarém.
Era, recorde-se, um movimento unitário que participou nas “eleições” parlamentares encenadas pelo regime em 1969 e 1973.
Essas “eleições” eram falsificadas em tudo, desde o recenseamento eleitoral até à contagem dos votos. Mas, durante algumas semanas, havia uma pequena abertura na censura e nas restrições à liberdade de reunião. E isso dava alguma margem para tentar difundir ideias.
Foi nesse contexto que José Manuel Raimundo presidiu ao último comício da oposição em Santarém, antes do 25 de abril, aquando das “eleições” de Outubro de 1973.
Esse comício não foi encerrado a meio pela polícia, como tinha acontecido a outro, dias antes, numa vila vizinha, a Golegã. E noutros pontos do país.
Mas José Manuel Raimundo teve que enfrentar “várias vezes a intervenção do representante da autoridade”, com este a interromper os discursos.
Um importante processo de preparação da CDE para essas eleições foi o 3.º Congresso Democrático de Aveiro, realizado seis meses.
José Manuel Raimundo foi um dos delegados do distrito de Santarém que integraram a “comissão nacional” promotora desse congresso.
Sindicalismo
Uma segunda vertente de resistência antifascista em que José Manuel Raimundo se salientou foi o sindicalismo.
Em 1970, ele fez parte do grupo de democratas que conseguiram conquistar o chamado “Sindicato Nacional dos Empregados de Escritório e Caixeiros de Santarém”. Uma estrutura criada e, até então, controlada pelo regime.
Com casos semelhantes em Lisboa e noutros pontos, esse sindicato fez parte do processo que deu origem ao que veio a ser um importante pilar da democracia portuguesa: a central sindical CGTP.
Afinal, uma das preocupações centrais da ditadura de Salazar, como de todos os regimes fascistas, tinha sido, precisamente, impedir os trabalhadores de se organizarem com força coletiva, para defenderem os seus interesses de classe…
Associativismo
A terceira vertente de resistência em José Manuel Raimundo se salientou foi o associativismo popular.
Perante a proibição de partidos políticos e de sindicatos livres, muitas coletividades assumiram um importante papel como espaço de encontro e de vivência democrática. Nelas foi possível cultivar um pensamento crítico a partir de atividades culturais e recreativas.
Em plena ditadura, José Manuel Raimundo foi dirigente do Círculo Cultural Scalabitano e do Cine-Clube de Santarém.
Desde 1949 que era sócio da histórica Sociedade Recreativa Operária daquela cidade. E veio a ser o seu presidente da direção, em 1975/76, e presidente da assembleia geral, em 1982/83.
José Manuel Raimundo faleceu em 1993.
Diamantino Faustino
A homenagem que agora vai ser prestada a José Manuel Raimundo surge na sequência da evocação que foi feita em 2023 a outro antigo presidente da S.R.O. de Santarém, Diamantino Faustino.
Esse esteve na linha da frente noutro período da resistência antifascista: foi preso pela polícia política – a PIDE – em 1946 e 1949, por ser militante do então clandestino Partido Comunista Português.
E faleceu poucos meses depois de sair do cárcere no Forte de Peniche, ainda em 1949 – o mesmo ano em que o jovem José Manuel Raimundo se tornou sócio da S.R.O..
Luís Carvalho
Para saber mais
Acerca do papel de Diamantino Faustino, clique aqui.
Sobre as tradições da histórica Sociedade Recreativa Operária, de Santarém, fundada em 1915, clique aqui.
E, para mais pormenores da homenagem que agora vai ser prestada a José Manuel Raimundo, clique aqui.
Artigo originalmente publicado em: https://maisribatejo.pt/2024/