Capítulo V
Voltavam
a partir, no meio de uma chuva miudinha. Havia semanas que percorriam
terras rudes, aldeias distantes. Atrás deles o camião que transportava
os operários e as ferramentas. Pelo caminho, camponeses vestidos de lã
grosseira, passavam a pé, a cavalo ou pendurados em camiões. O general
observava atentamente o relevo do solo. E punha-se a imaginar a táctica
que os exércitos tiveram de aplicar no decurso de todas as guerras de
que o país foi teatro.
Num quiosque não longe do centro, comprimia-se muita gente diante dos jornais.
«Os albaneses lêem muitos jornais», disse logo o general.
O padre, saindo do seu torpor, respondeu:
«É porque se interessam muito pela política. Depois do desentendimento com a União Soviética, ficaram isolados na Europa.
- Como sempre...
- Agora estão submetidos a um bloqueio.
- Um país tão pequenino e um bloqueio. É esquisito.
- É verdade. E vão ter dificuldades para se aguentarem.
- Povo do diabo, disse o general. À primeira vista não se consegue dominá-lo pela força. Talvez ele se renda à beleza.
O padre pôs-se a rir.
- Porque é que você ri?
Mas o padre não respondeu e continuou a rir.
O
general deixou-se mais uma vez prender pelo sombrio da paisagem
escondida no nevoeiro, donde sobressaiam os flancos escalvados das
montanhas e pedras grandes e pequenas que emergiam do solo.
(...)
(...)
Ismail Kadaré, O General do Exército Fantasma, Tradução de Carlos de Miranda, Edição Ispagal, 1976, pp. 41 e 43)
As pretensas "grandes culturas" desprezam a literatura e a cultura dos pequenos povos.
Este romance transporta-nos para uma realidade histórica, vivida pelo povo albanês, que devemos revisitar...
Esta é a nossa singela homenagem a um escritor que nos deixou mas perdura, através da sua obra, enquanto houver quem a leia.