quinta-feira, 14 de março de 2024
segunda-feira, 11 de março de 2024
TRAVAR A CRISE CLIMÁTICA NÃO ESTÁ NA MESA DE VOTO. E AGORA?
Eleições em 2024, com mandato até 2028, sem um único programa para travar a crise climática são um crime contra as nossas vidas e uma confirmação que o próximo governo reterá a guerra declarada pelos governos e empresas contra as pessoas.
Travar a crise climática está na mesa de voto?
Enfrentamos a maior crise da Humanidade. As condições para existir vida humana e das espécies que connosco co-habitam este planeta estão em causa. O nível de violência e sofrimento humano inerente à subida da temperatura média da Terra acima dos 2ºC é para além do imaginável. Porém, há outros caminhos possíveis que não apenas o rumo ao colapso climático.
É possível travar a crise climática.
Começando pelos básicos, é necessário travar o aumento de emissões. Isto implica não avançar com novos projetos que aumentam emissões – gasodutos, aeroportos, etc – e deixar de investir e financiar com dinheiro público a indústria fóssil. Há igualmente diversas medidas que podem ser posta em prática já no imediato, sem um impacto na vida das pessoas e sem comportar uma séria transformação social, mas que permitem por um travão ao aumento das emissões: parar as emissões de luxo, pondo fim, entre outras coisas, ao uso de jatos privados, e acabar com as emissões de consumo sem utilidade social e com um grande impacto a nível de emissões, gasto de água doce, e destruição de territórios e ecossistemas, por exemplo banindo os cruzeiros, “brindes” inúteis, campos de golfe e os voos Lisboa-Porto. Para ser possível fazer estes cortes, é necessário colocar a vida acima do lucro e ter uma política, instituições e espaços públicos livres dos interesses fósseis, direcionando o foco de todas as instituições para a tarefa premente de travar o colapso climático.
Precisamos, não só, de garantir que não há um aumento das emissões, mas sim de garantir um corte de emissões de gases com efeito estufa substancial, para assim alcançarmos neutralidade carbónica até 2030, em Portugal. Tal implica uma grande transformação do modelo produtivo, dos processos industriais, da forma como produzimos energia, e de como a utilizamos, do sistema de transportes, e do modelo de produção agrícola, do sistema alimentar, da gestão florestal e de gestão de resíduos. Para esta mudança acontecer, grande parte do trabalho na sociedade tem de ter esse propósito. Devemos criar milhares de Empregos dignos geridos democraticamente para o clima e a sociedade – os Empregos para o Clima. Para além disto, temos de imediatamente abandonar os Tratados de comércio livre e de investimento, que impedem que as pessoas tomem decisões em prol da vida e dos interesse das pessoas, se estas forem contra os lucros do 1% da população.
Para conseguirmos fazer esta mudança de forma resiliente, ao mesmo tempo que estamos já a enfrentar eventos climáticos extremos, temos de garantir que todas as pessoas têm uma casa, começando por parar imediatamente os despejos e deportações, que exacerbam os efeitos da crise climática na vida das pessoas. Acesso garantido a alimento saudável e autonomia energética são igualmente necessários.
Para além disso, mesmo que Portugal atingisse hoje neutralidade carbónica em Portugal, manteríamos o rumo ao colapso climático através da perpetuação do colonialismo fóssil e do investimento no complexo industrial militar. Não há como por fim a esta guerra declarada à vida, sem desmantelar estes sistemas de opressão.
Os custos desta transição devem claro ser pagos por quem foi e é responsável por criar e perpetuar esta esta crise – CEOs, acionistas, etc –, não sendo estes que fazem as decisões, mas sim as pessoas, garantindo justiça social.
Em: https://www.climaximo.pt/travar-a-crise-climatica-nao-esta-na-mesa-de-voto-e-agora/
sexta-feira, 8 de março de 2024
Diana Andringa: “A imprensa finge ser muito livre, mas não o é”
Recusa ser uma figura pública e considera prejudicial que os jornalistas se queiram fazer de vedetas. Mas a meio de uma conversa longa no primeiro andar do Cinema São Jorge, em Lisboa e onde acontecerá o 5.º Congresso dos Jornalistas este fim de semana, um homem aproxima-se da mesa com um dedo levantado e, ignorando se interrompe alguma coisa, pergunta: “é a jornalista Diana Andringa?”.
É. Desde 1968, quando começou a trabalhar na revista Vida Mundial. Por lá esteve pouco tempo, saindo numa demissão coletiva, e foi para a publicidade. Por atos subversivos, como ter papéis em casa e levar roupas a prisioneiros angolanos nas prisões do fascismo, acabou ela mesma em Caxias. Passou lá longos 20 meses, acompanhada por um “exército de palavras” que guardava na cabeça e enfileirava em poemas que recitava de cor: desde as quadras dos livros da instrução básica até aos versos de Manuel Alegre.
Depois de sair da prisão, regressou ao jornalismo. Em 1978 foi para a RTP, onde o novo regime democrático não a impediu de ser censurada por falar de “coisas desagradáveis” (a Guerra Colonial) na sua série documental “Geração 60”. Trabalhou na estação pública até 2001. As suas últimas duas décadas têm sido dedicadas ao cinema documental, debruçando-se sobre a história das resistências ao fascismo e ao colonialismo portugueses.
Em entrevista ao Setenta e Quatro, relembrando tempos em que os tipógrafos também encarnavam o papel de editores (“Se o senhor Severo me dizia que não entendia, eu ia reescrever.”), Diana Andringa faz um diagnóstico pouco animador do atual estado do jornalismo português. Os jornalistas vivem precários e com tanto “medo que não podem ser livres”. Denuncia os “grupos sem rosto que compram jornais” e a quem interessa mais a influência política que uma boa reportagem. E assume que “tem de haver” um plano público de financiamento de jornalismo, para que este não fique refém das condições que o colocaram em crise.
Dependemos de quem nos lê. Contribui aqui.
Disse certa vez que a "precariedade é uma questão de liberdade de imprensa". A Diana foi censurada pelo Estado Novo e esteve nas prisões do fascismo, ainda que não pelo seu trabalho como jornalista. Graças à precariedade, e ainda que não haja censura e fascismo, temos hoje uma imprensa pouco livre?
Quando estava no sindicato de jornalistas tinha um "leitmotiv": a precariedade no trabalho é uma ameaça aos direitos humanos. No jornalismo, acaba por ser mais que isso. É uma ameaça às liberdades de imprensa e de expressão. Um jornalista precário está indefeso. Uma das grandes conquistas do jornalismo português é a cláusula de consciência. É uma defesa pouco usada em Portugal. Se um jornalista for precário terá medo de a usar. Ao mesmo tempo, está sempre sob a ameaça de ser dispensado. Nestes moldes, um jornalista passa a vida a medir os seus passos.
Neste momento, a imprensa finge ser muito livre, mas não o é. Há a precariedade, as redações extremamente diminuídas, a rapidez exigida ao jornalista. Um jornalista não é inteiramente livre se não tiver tempo para a reflexão, porque o jornalismo não se faz carregando num botão. Somos seres humanos e temos de pensar sobre o trabalho que fazemos, levantar dúvidas. Precisamos de camaradas na redação com quem conversar.
Na RTP, o Jacinto Godinho e eu éramos chamados de "alentejanos", como naquelas piadas reacionárias, porque passávamos horas encostados às paredes a discutir o nosso trabalho. É isto que faz uma redação. É assim que se pratica a liberdade de imprensa.
As redações precisam de gente, para que haja crítica, conversa, e os trabalhos precisam de tempo de maturação. Quando te dizem que tens dez minutos para escrever dez mil caracteres, não és livre. Estas velocidades infernais não servem para nada.
Por outro lado, os jornalistas tornaram-se passadores de recados. Desconfiam dos políticos, mas publicam os recados todos que a magistratura e a polícia querem fazer passar sobre os políticos. Isto faz-me impressão, talvez por ter sido presa política. A meu ver, isto não é liberdade. Liberdade é poder interrogar toda a gente. Dizer ao magistrado que afirma que o primeiro-ministro ou o secretário de Estado é corrupto: "E o senhor? Lembra-se daquela vez que fez isto e aquilo?".
Há autocensura, constrangimento...
Os jornalistas aceitam coisas que não deveriam, em vez de as questionar. Têm essa obrigação, mas não o fazem. Têm tanto medo que não podem ser livres. Um jornalista que hesita em publicar algo vê-se ser ultrapassado pelo que não teve nenhum problema em o fazer. Depois, saem notícias incorretas, falsas ou sem contraditório. Ouvir o outro lado da história é uma das bases do jornalismo e vai sendo esquecida. Ouvimos sempre o polícia, ninguém ouve o ladrão. Talvez conviesse saber porque é que o ladrão decidiu roubar.
Nesse sentido, a nossa imprensa é pouco livre. O resultado é visível: metemos os jornais ao lado uns dos outros e parece que são iguais. Havia um tempo em que eu dizia que a Lusa escrevia os jornais todos e os editores inventavam títulos diferentes. As notícias são as mesmas. É comum fazer zapping na televisão à hora do noticiário e ouvir a mesma notícia repetida em todos os canais. Isto não me parece uma imprensa muito livre. São agendas pré-determinadas por questões de marketing, de política.
"Um jornalista não é inteiramente livre se não tiver tempo para a reflexão, porque o jornalismo não se faz carregando num botão. Somos seres humanos e temos de pensar sobre o trabalho que fazemos, levantar dúvidas. Precisamos de camaradas na redação com quem conversar."
Sendo uma pessoa condescendente, acho que os disparates que oiço na televisão se devem mais à ignorância de quem os diz do que por agenda política, mas acredito que, neste momento, as agendas políticas exercem uma pressão mais forte sobre os jornalistas que há uns anos. Atenção: eu defendo que os jornalistas têm todo o direito a uma opinião, a uma posição, a militar num partido político. Mas quando fazem jornalismo são jornalistas, e não se devem deixar controlar pela agenda política que estiver na moda naquele momento.
Criam-se narrativas inquestionáveis.
A infeliz invasão da Ucrânia não faz de [Volodymir] Zelensky um democrata. Os massacres de inocentes feitos pelo Hamas não justificam um genocídio. Há que estudar a história e o contexto em que as coisas acontecem. Mas isso foi destruído no jornalismo. No meu tempo, ensinava-se que uma notícia deveria trazer o seu contexto. Hoje, isso não existe. O resultado: cria-se uma insegurança imensa na população.
Apercebi-me disso durante a guerra nos Balcãs [1991-2001], quando uma amiga, psicóloga no Hospital Júlio de Matos, me interpelou: "tens ideia do que os teus meninos andam a fazer aos meus meninos?". Os "meus meninos" eram os jornalistas e os dela eram os doentes. Disse-me que muita gente aparecia nas consultas com queixas, com sinais de psicoses, por verem as notícias de uma guerra tão próxima e não perceberem por que razão aquelas pessoas se estavam a matar. Não havia qualquer contexto para todas as aquelas imagens de extrema violência, de mortos e estropiados.
Nós, jornalistas, não nos apercebemos disto: se não tens contexto, tudo passa a ser uma ameaça. Remeteram-se as explicações para uns senhores que nasceram agora, não sei de onde, que não sabem nada mas são chamados de especialistas e analistas. O seu papel é manter e alimentar um pensamento único.
Parece que o jornalismo passou a ser mais um produto que se consome e cuja finalidade é garantir lucro. Isso promove formas de censura?
É difícil responder. O propósito de um jornal, para quem o detinha, sempre foi ser vendido, mas os patrões da indústria, antigamente, interessavam-se pelo jornalismo. Eram pessoas sérias que prezavam um trabalho bem feito. Depois, ao longo do tempo, o produto jornalístico deixou de interessar. Interessam as audiências, o retorno da publicidade e a influência política. Não sejamos inocentes: ninguém compra um jornal que não dá lucro por outra razão que não o poder político que lhe confere.
Neste momento, aos grupos sem rosto que compram jornais interessa mais o negócio que o jornalismo. Ora, por outro lado, e ao contrário do que se tenta espalhar, os meios públicos são mais livres que os privados. Em vários aspetos, incluindo na cabeça do jornalista. Pode parecer estranho, mas o jornalista pensa: "aqui trabalho para o povo", não trabalha para acionistas.
Quando apareceram as televisões privadas, eu era presidente do Sindicato [de Jornalistas]. Faziam-se lá coisas que nos pareciam verdadeiramente anti-deontológicas. Chegámos [nós, os sindicalistas] a ser maltratados e quase expulsos de redações. Uma antiga colega da RTP fazia numa televisão privada coisas que eu sei que se recusaria a fazer — e com razão — na estação pública. "Mas aqui o dinheiro é do patrão", disse-me ela. Ora, o patrão tem os seus interesses. E o jornalista também. Nem que seja o interesse em continuar a ter trabalho, e sem democracia não há jornalismo.
Há uns dias, uma camarada jornalista propôs, corajosamente, que se revertessem para o Estado alguns jornais que estão em crise. Tenho a certeza que isso seria melhor quer para os jornalistas, quer para os leitores, quer para a democracia.
Quando o Estado apoiou a comunicação social, durante a pandemia, houve quem falasse em "sovietização". Deve haver um plano de financiamento público do jornalismo?
Tem de haver. Não creio que só porque alguém recebe dinheiro público deve, ou irá, ser obediente a quem está no poder. Deverá ser obediente ao povo, essa palavra tão pouco usada. O jornalista, nessa responsabilidade, garante a sua liberdade, e mais capacidade de intervenção.
Tive problemas de censura na RTP, sem dúvida. Tive de apresentar queixa ao sindicato porque me censuraram uma série documental chamada Geração de 60, por causa de um episódio sobre a Guerra Colonial."É por causa da tua mania de falar sobre coisas desagradáveis; porque é que que não falas dos Beatles?", disse-me o meu diretor. Demorou dois anos, mas o episódio foi para o ar.
Uma vez, noticiei uma manifestação contra o governo em El Salvador. Escrevi que os trabalhadores em El Salvador "exigiam" melhores condições. O chefe mandou-me chamar e disse-me que os trabalhadores não exigem, "pedem". E eu respondi: "é melhor ir ver as imagens, porque eles estão a pedir de uma maneira esquisita, levam armas na mão".
Escrever que os trabalhadores "pedem" é uma escolha ideológica. E ter uma opinião contrária vai contra o fabrico do consenso que afirma que os ricos é que têm razão e por isso é que são ricos. Há jornalistas muito cúmplices dessa construção de uma narrativa consensual, muitas vezes sem a consciência disso.
"Ouvir o outro lado da história é uma das bases do jornalismo e vai sendo esquecida. Ouvimos sempre o polícia, ninguém ouve o ladrão. Talvez conviesse saber porque é que o ladrão decidiu roubar."
Há uma degradação do ofício jornalístico, que acaba por se alimentar a si próprio. O jornalismo está descredibilizado?
Sim. A própria ideia do que é um jornalista vem-se degradando há muito tempo. Desde que dou aulas que pergunto, no início do ano letivo, quem quer ir para a imprensa, para a rádio e para a televisão. Muitos queriam ir para a televisão. E eu juro que não é perseguição minha, mas eram os que tinham piores resultados nas provas. Julgavam que a televisão é uma coisa que se faz com um bom palminho de cara e uma voz decente. Mas a televisão é muito mais trabalhosa que a imprensa, porque é, simultaneamente, texto, imagem e som.
Criou-se a ideia do jornalista como vedeta. Está errado. Somos um veículo que passa informação. Somos aquelas pessoas felizes a quem pagam para ouvir e contar histórias. Temos muita sorte. Não somos assim tão importantes, mas os jornalistas têm vindo a convencer-se que sim. E então já está a ver o jornalismo todo deturpado. Começa a degenerescência, deixa de haver cuidado no que se escreve e se faz.
Eu sei que muita da falta de cuidado, de erros evitáveis, vem da precariedade, das pobres condições de trabalho. Uma das coisas mais importantes numa redação é a memória. Ora, a uma certa altura as redações concordaram que os mais velhos fossem afastados: porque ganhavam um pouco mais ou tapavam a progressão. Quantas vezes não tive eu de tirar dúvidas com os jornalistas mais velhos, porque não entendia um nome, uma palavra, uma referência? Liam os nossos trabalhos e avisavam-nos das calinadas que escrevíamos.
Muita coisa se perdeu e o jornalismo piorou. Na [revista] Vida Mundial, os tipógrafos eram o nosso primeiro público. Diziam-me: "Ó, Andringa, não percebo isto que escreveste aqui". E se o senhor Severo me dizia que não entendia, eu ia reescrever. Hoje, já não tens o senhor Severo. Já não tens a datilógrafa que te diz: "isto aqui está um bocado confuso". Escreves e publicas imediatamente. Perdeu-se tempo, perderam-se modos e espaços de reflexão, e com o desaparecimento da memória nas redações os jovens jornalistas não se aperceberam disto.
Mas há cursos superiores que ensinam o jornalismo.
Nunca achei que deveria haver licenciaturas de jornalismo. As pessoas deveriam formar-se em Direito, em História, em Antropologia, em Medicina, e depois num mestrado aprenderiam as técnicas do jornalismo. Fariam jornalismo sabendo alguma coisa. Em vez disso, os jornalistas de hoje acham que sabem tudo sobre tudo — principalmente os de televisão — quando são tremendamente ignorantes sobre uma série de coisas. Isso está a minar a nossa democracia.
Consciente ou inconscientemente, os jornalistas de hoje promovem um tipo de informação que manipula o público. Os noticiários com ecrãs divididos em quadrados, as imagens repetidas, os diversos oráculos com frases sempre a passar têm efeitos psicológicos nas pessoas. Promovem a desconcentração, porque não há tempo para refletir. O telespectador é confrontado com tanta informação que fica desarmado.
"Aos grupos sem rosto que compram jornais interessa mais o negócio que o jornalismo. Ora, por outro lado, e ao contrário do que se tenta espalhar, os meios públicos são mais livres que os privados."
O analfabetismo funcional no nosso país é, infelizmente, muito alto. Há uma população envelhecida que não tem literacia mediática, especialmente para o digital. Tudo isto é perigoso. Estamos a fomentar o medo e a imposição de um regime de força, de um líder forte que traga ordem ao caos. Ora, um regime de força, sabemo-lo bem, rebentará com aquilo que é a nossa base, a liberdade de imprensa. A atitude dos jornalistas tem algo de suicida.
Durante a pandemia, falou sobre a "ética da responsabilidade" sobre as palavras usadas. Um estudo da Universidade do Minho concluiu que os jornalistas "orientaram cidadãos para o confinamento". Por um lado, isso promoveu boas práticas de saúde pública num momento crítico. Por outro, demonstra o poder, e a disponibilidade, que o jornalismo tem em fabricar consentimento, em linha com o poder político.
Ao retirar o contexto da transmissão de uma notícia, o mundo vai se tornando incompreensível, e o que é incompreensível cria pânico. Hoje vivemos todos mais ou menos assustados. Estamos a assistir a isso com a narrativa mediática criada à volta do Serviço Nacional de Saúde. Eu não quero que as pessoas fiquem contentes quando as coisas correm mal, mas vamos lá ter calma.
A história das ativistas despidas pela polícia durante a revista na esquadra depressa se deixou cair. Nem no meu tempo era comum a PIDE fazer isso, mas os jornalistas pareceram não se indignar muito. No final, toda a situação ficou a parecer uma coisa normal, e que os polícias têm direito a desnudar as pessoas, porque, coitadinhos, ganham pouco.
Aqui há tempos, a convite do Sindicato de Jornalistas, fui dar uma formação a magistrados. Disse-lhes que ainda estou à espera que me mostrem um jornalista que tenha escalado as paredes da Polícia Judiciária, entrado pela janela e roubado um processo. Porque a violação do segredo de justiça ou é feita assim ou são os magistrados, ou os seus funcionários, a dar as informações aos jornais para que se destruam as pessoas.
Os jornalistas não podem aceitar ser passa-recados. Como é que se noticia que um secretário de Estado tem haxixe em casa? É manipulação da opinião pública. Como é que o jornalista soube que estava lá esse haxixe? Não sabemos, mas duvido que tenha sido a mulher-a-dias. Convém citarem-se as fontes. De repente, desapareceu essa necessidade. Aceitou-se que há fontes que estão acima da luta de classes: se a polícia diz, se o magistrado diz, se Carlos Alexandre diz, então tem de ser verdade.
Como jornalistas, temos de pensar nas nossas condições de trabalho, temos de nos preocupar em exigir um salário decente, mas também temos de pensar, acima de tudo, naquilo que fazemos aos outros. Isso faz parte da ética da profissão. Deixou de se discutir o que é ético. Se calhar acham que são discussões de velhos, mas os jornalistas têm o dever de garantir a dignidade das pessoas.
Ninguém vai para o jornalismo porque quer ser rico, mas porque acredita que informar é bom para o povo e importante para a democracia, porque se vai denunciar o que está errado. Mas a formação ética é negligenciada. Há que respeitar o outro, ou acabamos desrespeitados. É aí que começa a descredibilização da profissão, e a culpa não é do estagiário. É do editor, é do diretor. Andamos a disparar nos nossos próprios pés e podemos estar a abrir caminho para o fim da democracia.
"Perdeu-se tempo, perderam-se modos e espaços de reflexão, e com o desaparecimento da memória nas redações os jovens jornalistas não se aperceberam disto."
Há um partido político em cujos eventos tem havido ameaças e agressões a jornalistas. A última foi esta semana. Mesmo assim, o seu líder é das personalidades com mais tempo de antena nos espaços noticiosos (na televisão). Qual é a responsabilidade dos jornalistas perante uma força política anti-democrática que dá ótimas manchetes?
No momento em que um jornalista é agredido, todos os seus camaradas se devem retirar de imediato e não há notícia sobre isso. Houve um tempo em que isto seria evidente. Quando esteve cá um presidente norte-americano, a RTP foi fazer reportagem. Deixaram entrar primeiro os jornalistas norte-americanos. Eu protestei e imediatamente todos os fotojornalistas portugueses baixaram as câmaras e disseram que não faziam imagem.
Noutra vez, houve uma conferência de imprensa de Henry Kissinger ali no aeroporto. Fui escalada para lhe fazer duas ou três perguntas. Faço a primeira pergunta e Kissinger ignora-me e passa a palavra a um jornalista norte-americano, que diz: "a minha pergunta é a da jornalista portuguesa a que o senhor não respondeu". Ele passa para um segundo jornalista norte-americano, e leva a mesma resposta. Passa para um terceiro e ele responde-lhe o mesmo. Isto era o que se fazia quando ainda nos chamávamos camaradas uns aos outros.
A situação atual no jornalismo português não se resolve com atos simbólicos. Temos de fazer greves, para ver se as pessoas percebem que precisam do jornalismo. Também é essencial, e alguns jornalistas já o fazem, colocar estes acontecimentos no contexto histórico. A extrema-direita sobe em todo o lado. Temos de tornar evidente aquilo que ela faz — e fez — nos vários países onde governou. Mas alguns jornalistas parecem ter ficado fascinados com a força das massas e das pessoas que falam alto.
Redações do Setenta e Quatro e do Fumaça condenam brutalidade policial contra os seus jornalistas
João Biscaia e Bernardo Afonso foram agredidos pela PSP enquanto cobriam uma manifestação antirracista e antifascista em Lisboa. Identificaram-se consecutivamente como jornalistas. Têm a intenção de apresentar queixa conjunta junto das autoridades competentes.
Os jornalistas João Biscaia, do Setenta e Quatro, e Bernardo Afonso, do Fumaça, foram agredidos por agentes não identificados do Corpo de Intervenção (CI) da Unidade Especial da PSP, enquanto cobriam uma manifestação espontânea antifascista e antirracista na Praça do Município, em Lisboa, no sábado passado, 3 de fevereiro. Ambos estavam à margem dos manifestantes e identificaram-se reiteradamente aos agentes da PSP como jornalistas.
Desde o início da operação policial, Bernardo Afonso, jornalista do Fumaça, de carteira profissional na mão, exigia perante os agentes que faziam barreira policial a sua identificação e insistia para falar com o comandante da operação, uma vez que nenhum dos polícias se encontrava identificado, como é obrigatório. João Biscaia, que também tinha a sua carteira profissional na mão, encontrava-se mais afastado do corpo policial e da manifestação, a filmar.
Sem qualquer diálogo com as pessoas presentes ou qualquer ordem de desmobilização, o CI fez recuar manifestantes e jornalistas com violência indiscriminada. Bernardo Afonso levou várias bastonadas de três agentes na cabeça, na mão direita, nos braços e nas costas. João Biscaia foi diretamente abordado e agredido por um agente com um soco e um pontapé. Antes, durante e após as agressões, ambos identificaram-se várias vezes como jornalistas, como está amplamente documentado em vídeo. São, portanto, falsas as declarações da PSP ao Diário de Notícias ao dizer que “jornalistas não tenham sido agredidos”.
Os jornalistas presenciaram e documentaram ainda outras agressões a manifestantes. Bastonadas indiscriminadas, pontapés e empurrões violentos com o objetivo de afastar as pessoas da praça, para que a manifestação organizada por neonazis lá pudesse terminar. Pelo menos dois manifestantes foram agredidos quando já estavam imobilizados no chão. Um deles foi-o já detido e manietado. Além disso, o grupo de manifestantes foi empurrado pelo cordão policial para a Rua do Arsenal, que não se encontrava cortada ao trânsito, para onde transeuntes sem ligação à manifestação também foram empurrados.
Refira-se ainda que, durante a operação policial, uma jornalista contactou o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) para saber o nome da chefia da operação, mas não obteve resposta. O porta-voz confirmou, no entanto, que a identificação dos agentes era regra obrigatória, "do mais elementar". Em declarações ao Público, a PSP disse que os agentes estavam identificados por “código alfanumérico visível no capacete distribuído individualmente”. Só revendo os vídeos do momento é possível detetar o código inscrito na parte de trás do capacete dos polícias, oculto para qualquer pessoa posicionada à frente do CI.
No entanto, não há base legal para que os agentes da PSP se identifiquem dessa forma. Sendo verdade que o Estatuto de Polícia prevê a hipótese de o Diretor Nacional da PSP autorizar a dispensa temporária de identificação, incluindo substituindo por um código identificativo, o Ministério da Administração Interna nunca publicou, desde 2015, a portaria necessária para a regular. Daí que a Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI) tenha reiterado que “a obrigatoriedade da identificação dos agentes policiais já é uma realidade”. A inspeção das polícias acrescentou ainda que "inexiste qualquer razão para, envergando uniforme/farda, não existir modo de identificar em concreto cada um dos agentes que são suscetíveis de interagir com os cidadãos".
E, mesmo que existisse identificação alfanumérica visível, à revelia da lei, nenhum dos jornalistas presentes alguma vez a conseguiu ver, nem qualquer um dos polícias – ao ser pedido que se identificasse – para esta apontou. Assim, e à data de hoje, os jornalistas continuam sem saber quem comandava a operação e a identificação dos agentes autores das agressões.
De acordo com os relatos dos seus jornalistas, e no entender das redações do Setenta e Quatro e do Fumaça, a PSP mostrou-se alheia a qualquer preocupação com a segurança e integridade física dos cidadãos presentes. Pelo menos seis pessoas tiveram de receber assistência hospitalar e outras três foram detidas. Acrescente-se ainda que a atuação dos agentes envolvidos na operação policial representou, ao impedir os jornalistas de desempenharem o seu trabalho, uma violação à liberdade de imprensa e ao direito de informação.
Os jornalistas, que foram agredidos simultaneamente, têm a intenção de apresentar queixa conjunta junto das entidades competentes. Dado que os agentes responsáveis pela agressão muito dificilmente serão identificados através das imagens registadas, o desfecho mais provável desta queixa conjunta é o arquivamento.
As ameaças e agressões contra jornalistas, que são um crime público, têm-se sucedido nas últimas semanas. No passado domingo, dois jornalistas foram atingidos por objetos diversos durante o discurso de recandidatura do atual líder do Futebol Clube do Porto no Coliseu do Porto. No final de janeiro, uma jornalista e um repórter de imagem do Porto Canal foram agredidos durante a cobertura de uma manifestação de trabalhadores que foram despedidos de uma empresa em São João da Madeira.
Duas semanas antes, um jornalista do Expresso foi agarrado pelas mãos e pelos pés e retirado de um evento na Universidade Católica, em Lisboa, em que marcava presença o líder do partido de extrema-direita Chega. Também, no final de dezembro, Ricardo Esteves Ribeiro, jornalista do Fumaça, foi agredido à bastonada por um agente não identificado da PSP e viu o seu telemóvel confiscado por outro, também não identificado, enquanto documentava uma detenção numa manifestação organizada à frente do Estabelecimento Prisional de Lisboa — a IGAI abriu entretanto um inquérito.
As redações do Setenta e Quatro e do Fumaça estão solidárias com todos os jornalistas ameaçados e agredidos, repudiam veementemente a brutalidade policial de sábado passado e condenam todos os ataques à liberdade de imprensa e ao direito à informação.
Editorial do Jornal Setenta e Quatro de 8 Fevereiro 2024
https//www.setentaequatro.pt
quarta-feira, 6 de março de 2024
O POVO MASSAI ESTÁ A SER EXPULSO DAS TERRAS ONDE SEMPRE VIVERAM
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As nossas vidas regem-se por um juramento sagrado aos nossos antepassados: prometemos proteger estas terras e o frágil equilíbrio da vida. As nossas planícies florescem graças a esta promessa… e é por isso que o governo quer usá-las para turismo de luxo.
Onde nós vemos vida e amor, eles vêem apenas dinheiro. Está a acontecer pelo mundo fora. Os defensores das florestas tropicais, pântanos, e savanas estão a ser atacados e expulsos dos seus lares -- sem meios praticamente nenhuns para oferecer resistência. A comunidade da Avaaz tem sido uma firme aliada. Vocês ajudaram-nos a atingir vitórias importantes -- mas anunciam-se mais expulsões, e o custo de novos processos em tribunal é demasiado alto para nós. Com financiamento suficiente, a Avaaz pode:
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Irmãs e irmãos do mundo inteiro, obrigado. Mwanga wa jua ukuangazie: que a luz do sol brilhe convosco.
Ancião massai de Ngorongoro e toda a equipa da Avaaz Porque importa ajudar agora
Notas: Dado que esta comunidade massai está a ser perseguida e a ser alvo de detenções e prisão arbitrária, escrever um email como este pode ter consequências graves. Por isso, os nomes foram omitidos e a fotografia é anónima. PS: Essa pode ser sua primeira doação para nosso movimento. E que primeira doação!! Você sabia que a Avaaz se sustenta totalmente com pequenas doações de membros da comunidade como você? É por isso que somos totalmente independentes, ágeis e eficazes. Junte-se a mais de 1 milhão de pessoas que doaram para tornar a Avaaz uma verdadeira força do bem no mundo. |
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segunda-feira, 4 de março de 2024
TRAVAR A CRISE CLIMÁTICA ESTÁ NAS TUAS MÃOS
Relembrando as palavras de António Guterres, atualmente estamos a caminhar rumo ao inferno climático. Os políticos mantêm o pé no acelerador. Alguns vão mais rápido, outros mais lentos. O que é preciso é mudar o rumo de direção. Dirigir-nos no sentido de colapso climático é um ataque à vida e uma guerra contra as pessoas e o planeta.
Todos os políticos têm acesso à informação, sabem perfeitamente o estado da crise climática. De igual forma, não se trata de falta de consciência ou de ignorância perante as soluções e alternativas. Todos sabem que travar a crise climática não é impossível, mas requer um processo de transformação industrial e laboral em larga escala, passando a estar no centro da sociedade a vida, ao invés do lucro. Pois bem, esta é uma mudança que requer uma enorme transformação social. Seja qual for o seu formato, será sempre contada como uma revolução. Esta mudança assusta o 1% da população que atualmente está a lucrar com a destruição da vida e não será permitida pelas instituições que atualmente funcionam para eles. Porém esta é a mudança necessária para alcançar justiça social e proteger a vida das pessoas, assim como enfrentar de forma coletiva a crise climática que já cá está.
Há soluções, construídas por pessoas e movimentos sociais: o Plano de Desarmamento e Plano de Paz une propostas formuladas e discutidas ao longo de anos, sendo atualmente a única alternativa honesta e realista que conhecemos em Portugal para resolver a crise climática. É um plano em constante construção feito através do debate entre as pessoas, respeitando os limites da ciência e e do planeta e promovendo a justiça social. Este é um plano que tem de ser conquistado e executado por todas nós, todos os dias, com as nossas próprias mãos.
Os 50 anos da revolução dos cravos relembram-nos como enormes mudanças podem ocorrer quando as pessoas se unem e lutam lado a lado. A mudança necessária para travar a crise climática será feita pelas pessoas comuns.
Travar o colapso não será feito por nenhum dos possíveis governos que saiam de 10 de Março. Para travar a crise climática, não importa tanto a tua decisão no dia 10 de Março mas sim o que vais estar a fazer nos restantes 364 dias do ano. A maior crise da história da Humanidade não vai ser resolvida na mesa de voto mas sim nas ruas, indústrias, portos, escolas, centros de saúde, campos e cidades. Enfrentar a realidade é assustador, pois aqueles que nos deviam estar a proteger estão a decidir a nossa morte. Não tem de ser assim.
É possível e necessário parar as crises atuais. Há um plano de como fazê-lo.
Cada uma de nós tem de deixar de consentir com violência feita sobre as pessoas, entrar em resistência, e parar esta guerra e conquistarmos lado a lado a paz social, implementando com as nossas mãos uma sociedade com a vida no centro.
Em: www.climaximo.pt
sábado, 2 de março de 2024
EM DEFESA de UMA AGRICULTURA RESPEITADORA dos POLINIZADORES e dos ECOSSISTEMAS dos quais DEPENDE
É um feito magistral que os gigantes agro-industriais globais estejam prestes a ter sucesso em França e na Europa, ao autorizarem discretamente uma nova geração de pesticidas com efeitos potencialmente devastadores para os insectos que nidificam e se alimentam nos campos...
…como abelhas, zangões, borboletas, joaninhas …
… subvertendo as leis que deveriam garantir a protecção destes preciosos forrageadores que garantem a nossa segurança alimentar, e fazendo com que os perigos potenciais dos seus novos produtos nunca sejam controlados pelas autoridades!
Graças ao apoio dos cidadãos, a POLLINIS investigou durante vários meses o arsenal de métodos muito elaborados postos em prática pelos lobbies, que usaram todas as engrenagens do sistema à sua disposição para enganar as instituições que deveriam proteger a população e o ambiente, e secretamente impor esses novos pesticidas com um novo e assustador modo de ação, projetado para interferir na expressão genética dos insetos diretamente na natureza.
Confrontados com uma tal onda de recursos – legais, humanos, materiais e financeiros – precisamos do apoio do maior número possível de pessoas para expor a sua estratégia de lobby em plena luz do dia e criar diante deles um baluarte cidadão em defesa dos polinizadores e dos seres vivos. !
Transmita esta mensagem às pessoas ao seu redor e, se puder, faça uma doação para nos ajudar a organizar a resposta.
Há meses que trabalhamos arduamente para compreender e analisar as técnicas, as falhas, os compromissos que permitem a um grupo de multinacionais já grandemente responsável pela vertiginosa extinção da biodiversidade ...
... impor mais uma vez venenos perigosos, ignorando os riscos e sem qualquer salvaguarda legal ou política para impedir a sua corrida louca pelo lucro...
…com o sacrifício da natureza e da nossa segurança alimentar no futuro.
Descobrimos e trouxemos à luz as surpreendentes manobras de seus lobbies em uma investigação especial que você pode conferir clicando aqui .
Eis como eles próprios desenham o quadro regulamentar que lhes permitirá impor novos potenciais matadores de abelhas na Europa sem restrições ou controlo :
>>> Fazendo passar os seus produtos por “alternativas” “orgânicas” : depois de terem inserido cuidadosamente estas palavras em cada estudo científico que financiaram, partiram para a ofensiva na Primavera passada, obtendo a apresentação ao Parlamento Europeu de uma alteração listada a preto e pesticidas genéticos de RNAi branco entre as soluções de biocontrole (da mesma forma que a terra diatomácea ou o uso de joaninhas contra pulgões!).
>>> Usando start-ups “verdes” como tela : nossa investigação demonstrou uma nebulosa de ligações humanas e financeiras entre startups jovens e “verdes” que promovem esses produtos, e os gigantes agroquímicos como Bayer-Monsanto Corteva ou Syngenta- Chemchina que colherá os maiores lucros.
>>> Entre nas brechas das isenções ao sistema de experimentação : puderam testar seus produtos em campos abertos em vários países europeus, incluindo a França (em Eure, Marne e Saône et Loire), sem controle , sem sequer ter que primeiro fornecer provas de segurança ou implementar medidas de segurança para proteger o meio ambiente ou as populações vizinhas.
>>> Decidam por si próprios as condições de avaliação dos seus produtos : milhões de euros de financiamento público foram concedidos pela União Europeia a grupos onde os seus cientistas e lobistas estão amplamente infiltrados , para que possam desenvolver os protocolos que serão utilizados para avaliar a periculosidade dos seus produtos e decidir sobre a sua comercialização.
>>> Utilizar o seu monopólio científico para esconder os riscos : uma vez que é muito difícil avaliar de forma independente a perigosidade potencial dos seus produtos, protegidos pela propriedade intelectual e segredos comerciais, em abelhas ou borboletas, por exemplo, as empresas baseiam-se nesta falta de estudos para pretexto de que nenhuma prova demonstra que os seus produtos não são perigosos. Quando eles simplesmente não foram estudados !
Uma coisa é certa: se não nos opusermos imediatamente ao crescente poder dos seus lobbies com um contrapoder cidadão massivo e organizado ...
...então não só obterão a autorização e venda de novos pesticidas RNAi em campos europeus onde, de acordo com as primeiras estimativas científicas, serão capazes de aumentar dez vezes o impacto de pesticidas que matam abelhas, como os neonicotinóides contra os quais lutamos tão difícil...
…mas quem sabe que outros produtos nocivos provenientes de tecnologias novas e não testadas conseguirão impor graças ao quadro regulamentar feito à medida que estão a construir de mãos dadas com as autoridades - e com o dinheiro dos contribuintes europeus?
Agrotóxicos capazes de modificar o genoma dos insetos diretamente na natureza? Insetos OGM que transmitem seus genes de extinção a todas as populações selvagens? Micróbios e vírus geneticamente modificados para atacar insetos nos campos?...
… Por mais improvável que pareça, todas estas tecnologias existem e estão a ser desenvolvidas nos laboratórios das empresas agroindustriais . É essencial proteger as nossas abelhas e o ambiente face a esta onda de biotecnologias genéticas incertas , erguendo salvaguardas sólidas e intransponíveis!
É por isso que a POLLINIS se lançou à batalha, com a força e a experiência construídas ao longo de 10 anos graças ao apoio dos cidadãos cuja voz carrega em defesa dos polinizadores e dos seres vivos.
Sempre que pudemos, abrimos contra-fogos para evitar que as empresas estabelecessem a lei impunemente :
> Convencemos os deputados europeus a torpedear a alteração dos lobbies que fazia passar os pesticidas RNAi como biocontrolo;
> Trouxemos à luz as suas manobras numa investigação sem precedentes , levámos os nossos argumentos aos meios de comunicação social e mobilizámos uma primeira vaga de mais de 70.000 cidadãos;
> Reunimos cerca de uma centena de cientistas internacionais para alertar sobre estas tecnologias incertas e arriscadas para os seres vivos, e estamos a lançar projetos de investigação para preencher as lacunas científicas que permitem à indústria fazer passar a ausência de ciência como uma ausência de risco ;
> Exigimos responsabilização das autoridades europeias e francesas que aceitaram cegamente que a indústria testou os seus novos produtos nos nossos campos e estão prontas para tomar medidas legais para lançar luz sobre este escândalo;
> Exigimos poder fazer parte dos grupos de especialistas responsáveis pelo desenvolvimento de protocolos de testes, a fim de monitorar as manobras da indústria para desviar esses testes a seu favor.
Hoje, mais do que nunca, devemos continuar e desenvolver todo este trabalho essencial para contrariar o controlo dos lobbies sobre as decisões europeias e o nosso modo de vida. E para isso, precisamos de você.
Não é normal que agências de avaliação mandatadas pelos cidadãos para garantir a sua saúde, garantir a qualidade dos alimentos que consomem ou proteger o ambiente, deixem esta missão fundamental nas mãos de empresas com interesse financeiro, para comercializar directamente os seus produtos!
Aqui na POLLINIS, representamos os cidadãos e acreditamos que todos na Europa têm o direito de ser informados e de se oporem a decisões que vão contra a sua saúde, ambiente ou segurança alimentar.
Confrontados com processos institucionais e políticos que são deliberadamente complexos demais para serem abordados pelos indivíduos, e que marginalizam o discurso dos cidadãos em favor da chamada “racionalidade” científica…
...nossa equipe formada por cientistas, advogados, investigadores, especialistas em advocacia, e experientes no mundo político após mais de 10 anos caminhando pelos corredores das instituições...
…é uma ponte direta entre os cidadãos e os poderes de tomada de decisão .
Para garantir que agiremos sempre apenas no interesse dos cidadãos e no interesse geral , decidimos sempre recusar qualquer financiamento público, político, sindical ou de grandes empresas.
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Com quem mais poderíamos contar para construir esse contrapoder, senão com cidadãos comprometidos, como você, determinados a não permitir que sua saúde e sua alimentação sejam sacrificadas impunemente para aumentar os lucros de algumas grandes multinacionais?
Se não nos levantarmos urgentemente, todos juntos, contra a indústria agroquímica e o seu exército de lobistas, se os deixarmos estabelecer a lei impunemente em Bruxelas, não só será tarde demais para impedir o bloqueio total e definitivo da sistema em benefício da indústria, mas o caminho estará aberto para que possam transmitir qualquer nova substância devastadora para os polinizadores, para a natureza ou para a saúde humana!
Vamos parar o massacre agora. Contando convosco, e agradecendo desde já o vosso empenho e apoio na luta para proteger as abelhas e a natureza, e avançar para uma agricultura sustentável, respeitadora dos polinizadores e dos ecossistemas dos quais depende.
A equipe POLLINIS