quarta-feira, 29 de maio de 2024

#2 Estado de Emergência: justiça climática e justiça económica

A crise climática é uma crise existencial da Humanidade. Nunca estivemos tão perto de um cenário de catástrofes em cascata que colocam em risco de colapso as bases físicas e químicas da civilização.

A crise climática não acontece no vazio, acontece em sociedade e afeta as relações de poder. Mas a crise climática é também causada exatamente por estas relações de poder. É uma crise do capitalismo; é – como qualquer outra crise do capitalismo – uma crise da natureza expansiva do capitalismo e que o capitalismo tenta resolver com um novo salto expansivo.

A Justiça Climática é então a lente que nos permite analisar as causas profundas da crise climática. Colocando o contexto social e histórico no centro da análise, torna-se claro porque é que esta crise está a acontecer agora e nestes termos. Porque é que estamos tão perto de ter bilionários pela primeira vez na história e estamos simultaneamente a perder cidades inteiras devido ao colapso climático como aconteceu, no verão passado, na Líbia, na maior tempestade alguma vez registada no Mediterrâneo, mais de 20 mil pessoas morreram afogadas nas suas casas em Derna, arrastadas para o mar ou eletrocutadas?

Neste número dois da revista, cujo conselho editorial foi assumido pelo CIDAC e pelo Climáximo, olhámos exatamente para este caráter sistémico do capitalismo.

O Problema é o Sistema – Luta livre 

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Agradecemos à Luta Livre ter autorizado a reprodução deste vídeo.

João Camargo apresenta o capitalismo fóssil, um sistema entrelaçado de combustíveis fósseis e acumulação do capital. Andreas Malm, investigador-ativista que introduziu o conceito de “capitalismo fóssil”, explica a conexão histórica e estrutural entre o capital e os combustíveis fósseis. O livro “Tudo pode mudar” de Naomi Klein, recenciado por Leonor Canadas, conta-nos detalhadamente como o capitalismo fóssil, hoje e agora, gere e reproduz a crise climática.

Com este enquadramento em mente, olhámos para as políticas públicas e práticas empresariais atuais, com a ajuda de Mariana Riquito, investigadora e ativista, e descobrimos que, apesar dos comunicados e conferências de imprensa a dizer que está tudo sob controlo, estamos a passar por uma expansão energética e não por uma transição energética.

A expansão energética é empírica e acontece na vida real. Rehema Peter explica-nos o mega-projeto de oleoduto na Tanzânia e no Uganda, o East African Crude Oil Pipeline. Miguel de Barros, da Tiniguena, conta como o financiamento verde e os esquemas de compensação funcionam na Guiné-Bissau. A Mariana Riquito analisa como a expansão energética se manifesta com os projetos de mineração no Barroso. Finalmente, o texto elaborado pelo CIDAC, traz-nos a experiência do movimento francês Les Soulèvements de la Terre e a forma como se têm construído alianças populares para proteger os territórios contra os mega-projetos da expansão energética.

Em todos estes exemplos atuais da expansão energética, as populações e as organizações pela justiça climática constroem resistência e alternativas. Para dar algum contexto a esta participação popular, desenhámos um mapa com alguns dos principais movimentos pela justiça climática no mundo e, numa conversa entre Vera Ferreira, Luís Fazendeiro e Guilherme Luz, exploramos o que seria a democracia energética e a transição energética e social justa.

Travar a crise climática e construir a Justiça Climática será equivalente a desmantelar o sistema económico atual e construir Outras Economias.

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