Fiquei em estado de choque perante o abate de grande parte destas
árvores, pois resido nesta zona praticamente desde que nasci (há 50
anos) e nunca pensei assistir a um grau de insensibilidade e
desconsideração desta ordem, a pretexto da aplicação de uma lei que nos
deverá proteger do flagelo dos incêndios.
Por
exemplo, qual o contributo de um Carvalho-cerquinho isolado, com 80 cm
de diâmetro no pé, a cerca de 3 metros da estrada, para o agravamento de
um incêndio?
Ou qual o racional de remover um
renque completo de árvores (Freixos) que ajuda a evitar movimento de
massa num talude inclinado junto à estrada, numa zona sem contínuo
florestal?
Estes cortes são feitos ao abrigo da
legislação de prevenção dos incêndios em vigor, mas muitas suspeitas se
levantam quanto ao destino da madeira e às verdadeiras motivações para o
corte de umas árvores e não de outras.
Mas, a nível nacional, regista-se o abate de milhares e milhares de árvores, em muitos casos, desnecessário.
Estes cortes são um rude e decisivo golpe na beleza paisagística, do sombreamento das estradas e da biodiversidade.
Alguém está a avaliar a forma como se aplica esta lei? Será que está bem feita?
Será
que não se banalizou o corte de árvores de grande porte, algumas
centenárias, como se fossem simples ervas que voltam a crescer
passado alguns meses, com efeitos muito duvidosos na almejada prevenção
de incêndios?
E o que isto acarreta em termos
de alteração cultural perante as árvores e a natureza em geral? Não será
o Estado a contribuir fortemente para que o cidadão entenda os recursos
naturais como coisas descartáveis, com toda a leveza e frivolidade que
somos capazes?
João Correia