sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A Poluição dos Afluentes e do Tejo Continua! Que fazer?



Fonte e fotografia: Mais Ribatejo, 12 Agosto, 2024.

A mortandade agora verificada no rio Almonda é inerente ao modelo económico-financeiro, produtivo, social e cultural, ancorado na ideologia hegemónica que é imposta, pela classe social detentora do poder, "senhores do mundo / mandadores sem lei", às comunidades humanas...
 
Obviamente, os seus servidores nunca sabem a causa, a origem do crime  (ecocídio), nem identificam o criminoso, e, quando é impossível "fingir" que não sabem a identidade do criminoso, não acontece nada, ou, são-lhe aplicadas umas coimas irrisórias e a actividade criminosa pode continuar, de preferência, com menos arrogância, isto é, sem dar tanto nas vistas...

Vejamos a situação do rio Maior/vala real/canal de Azambuja - é um rio com várias designações -: começou a ser poluído/destruído, de forma visível na década de 50 do século XX, numa extensão considerável, com inicio na então Vila de Rio Maior. Em 1965, com a entrada em funcionamento da fábrica de tomate, situada em S. João da Ribeira, foi uma mortandade absoluta (peixes, enguias, galinhas de água, etc.)  desde a referida localidade até à foz (Azambuja)...

Desde então, a situação agravou-se com a introdução de outras indústrias, a agricultura e a pecuária - ambas tóxicas e intensivas - em particular, a produção intensiva de porcos em recinto fechado, de grandes dimensões, porque as produções familiares foram levadas à falência, dado as regras a cumprirem e a fiscalização permanente e rigorosa. Estas só se aplicam aos pequenos produtores, os grandes estão isentos...

Enquanto os pequenos produtores tinham que ter fossa séptica e campos para agricultura suficientes para escoar as águas residuais ("chorume"), os grandes, basta-lhes mandar abrir uns buracos no chão e enche-los com as águas residuais produzidas por milhares de porcos (excrementos, urinas, águas de lavagem, etc.). Estes cheios, vai de descarregar para as linhas de água e terrenos próprios ou alheios, poluindo e contaminando ambos.
 
Poluem as massas de água superficiais e subterrâneas, assim como os solos e o ar, tornando-o irrespirável e doentio, com os gases emitidos, inclusive, o metano e, indirectamente, o dióxido de carbono, ambos gases de efeito de estufa que estão a provocar as alterações climáticas, visíveis, para todas as pessoas que se recusem a negar a realidade.

Obviamente, a cidadania activa, organizada, unida e determinada pode alterar todo este sistema podre, corrupto, hipócrita e criminoso, como a história nos demonstra e a experiência nos prova.
 

Quanto à iniciativa pública organizada pelo executivo camarário de Santarém, em que participaram os executivos das quatro Câmaras (Azambuja, Santarém, Cartaxo e Rio Maior) e suinicultores, assim como o grupo de trabalho constituído pelas entidades referidas acima, resultaram da pressão feita pelas pessoas e as organizações ecologistas, cívicas e ambientais (Eco-Cartaxo, Movimento Ecologista - Vale de Santarém, Movimento Cívico Ar Puro - Rio Maior, No Coração da Cidade - Santarém, proTEJO - Movimento pelo TEJO) que se juntaram e, em conjunto, organizaram acções e iniciativas várias em que participaram centenas de pessoas.

Este trabalho conjunto e coordenado conseguiu ganhar pessoas, mudar, apenas, a retórica das entidades oficiais, por exemplo, até então, o discurso do executivo camarário de Rio Maior era: "os maus cheiros é sinónimo de riqueza e desenvolvimento do concelho"; passou para: "vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para resolver a situação e implementar a sustentabilidade, a economia verde, blá,blá... Mas, no essencial, a situação continua a agravar-se.

Por isso, é urgente e imperioso retomar o trabalho conjunto, coordenar e delinear estratégias, aprender com os erros cometidos, ganhar pessoas, para tomarem em mãos o resgatar do presente e construir futuro. Se ficarmos à espera que os criminosos e seus serviçais invertam a situação, vamos ser cúmplices da catástrofe que o capital está a impor a toda a humanidade.