segunda-feira, 29 de setembro de 2025

MORRE LENTAMENTE

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, 
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conserva com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guro.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos nos "is" em detrimento de um remoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida
fugir de conselhos sensatos.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre, que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda (12/07/1904 - 23/09/1973)