sexta-feira, 25 de março de 2022

FOGO E ÁGUA - CARAVANA PELA JUSTIÇA CLIMÁTICA

A crise climática é o tempo das nossas vidas e já está a provocar vários efeitos nefastos no território português. A expressão mais forte e evidente da crise climática em Portugal é a desertificação.

A Caravana toma, assim, 2 temas principais ao longo do caminho:

  • O fogo (associado aos incêndios, aos eucaliptos, às empresas de celuloses, ao abandono que é a base para a degradação das florestas) saindo na Navigator e da Celbi da Figueira da Foz até a Vila Velha de Ródão e à Celtejo;
  • e a água (seca, degradação do rio, poluição por parte das grandes infraestruturas, criação de inúmeras barragens e açudes que cortam o rio e o degradam) à medida que descemos o Tejo até Lisboa.

O percurso abarca, por um lado, a passagem pelas comunidades mais afetadas pelos efeitos flagrantes da crise climática em Portugal como os monstruosos incêndios florestais e a desertificação no interior-centro do território. Por outro lado, durante a Caravana passaremos, assinalando e denunciando as infraestruturas que têm mais responsabilidade sob a crise climática e seus efeitos no país. Referimo-nos a massivas infraestruturas de empresas como a Navigator e Altri (indústria da celulose), a Cimpor (indústria do cimento), Trustenergy (central a gás fóssil) e a EDP (central a gás e barragens) que, para além de terem uma enorme influência negativa na má gestão e proteção da água e da floresta, são grandes emissoras de CO2.

 

Porquê estas empresas?

Estas empresas, orientadas pelo sistema capitalista para colocar o lucro acima da vida das pessoas e do planeta, acarretam uma grande responsabilidade sobre as emissões de CO2 e a degradação ecológica em Portugal. Desde a perspetiva da justiça climática, esta degradação ecológica está intimamente ligada com injustiças sociais.

Comecemos pela Navigator e pela Altri. Senhoras do monopólio da celulose, detêm uma enorme influência na gestão de todo o mundo rural, que ao longo dos anos se tem vindo a tornar um autêntico eucaliptal para servir os interesses da produção e exportação em massa da indústria do papel. Portugal tem a maior área relativa de eucaliptos do mundo, sendo 1/3 da nossa floresta coberta por esta espécie, sendo o nosso o país do Mediterrâneo que mais arde. A Navigator é, além disto, a empresa nº1 em Portugal em termos de emissões de gases com efeito de estufa. Ainda assim pintam-se de verde a apresentam-se como uma empresa “verde”. Nada poderia estar mais distante da realidade. Passaremos por três fábricas da Altri (Celbi, Celtejo e Caima) e por duas fábricas da Navigator (Figueira da Foz e Vila Velha de Ródão).

A CIMPOR é a 4ª empresa mais emissora em Portugal e detém a 6ª infraestrutura mais emissora do país, o centro de produção de Alhandra, onde passaremos no dia 16 de Abril. É dona de muitas cimenteiras, centrais de betão e pedreiras. No dia 4 de Abril, uma parte da caravana passará na central de Souselas desta empresa.

A TrustEnergy detém a Central de Ciclo Combinada do Pego, que continua a queimar gás fóssil rumo ao caos climático, por onde passaremos no dia 13 de Abril.

A EDP é dona da Central térmica de Lares, por onde vamos passar no dia 3 de Abril. Esta é a 4ª infraestrutura mais emissora do país. É uma infraestrutura massiva que produz energia através da queima do gás fóssil, bloqueando ativamente uma transição para uma sociedade gerida com 100% de energias renováveis. Para além desta Central, a EDP está historicamente associada às grandes barragens que se construíram neste país e às grandes centrais de carvão que entretanto fecharam.

É certo que existem algumas outras empresas grandes responsáveis pelas emissões e pelo agravamento da crise climática em Portugal, mas estas são aquelas que nos permitem focar no fogo e na água.

Acresce que passaremos em locais onde se pretendem erigir projetos desastrosos, como o Projeto Tejo, onde várias empresas ligadas ao agronegócio querem construir um novo complexo de barragens para criar um “Alqueva do Tejo”, que vai destruir alguns dos últimos troços ainda livres do rio Tejo para irrigar agricultura intensiva para exportação (incluindo, muito provavelmente e para cúmulo do absurdo, a rega de eucaliptos). Perante uma redução da disponibilidade de água, o que estas empresas propõe é acabar de vez com o rio, promover o uso irracional da água e arruinar os ecossistemas e património cultural do Tejo.