sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A propósito do Dia Internacional para a Irradicação da Pobreza


A pobreza é inerente ou, parafraseando o ministro das finanças, uma das marcas de água do sistema capitalista, que a produz e dela se alimenta.

Por isso, a pobreza é usada para gerar negócio rentável e com elevada margem de lucro, para além disso, também dá estatuto social às personalidades do sistema, e que dele se alimentam, que se apresentam, ou são publicamente apresentadas, como paladinos do combate à pobreza, armados de uma retórica hipócrita, paternalista e suficientemente armadilhada ao ponto de convencerem, os incautos, de estarem genuinamente empenhadas e determinadas em acabar com a pobreza.

E, ano-após-ano, década-após-década, a pobreza persiste, agrava-se e o fosso entre os mais ricos e os mais pobres acentua-se cada vez mais. Tudo isto é triste, tudo isto existe, e vai continuar enquanto o permitirmos, enquanto não nos libertarmos da ideologia hegemónica que o sistema nos incute, através de todo o seu aparelho de Estado, meios de difusão públicos e privados, e transmitida de geração em geração…

E, como somos formatados para não nos questionarmos, muito menos, questionarmos o sistema e as suas verdades absolutas, inquestionáveis, intrínsecas e sistémicas, vamo-nos adaptando, acomodando e, em última análise, sustentando e suportando o próprio sistema, isto é, somos quem garante o funcionamento de toda esta engrenagem, que nos explora, oprime, humilha e mantém na pobreza…

A pobreza é muito mais do que «viver com menos de 632 euros por mês», por um lado, uma pessoa com um salário, pensão ou reforma daquele valor não vive, sobrevive, morre lentamente e não tem capacidade física e intelectual para se libertar do jugo que lhe foi imposto e nele é mantida, através dos mais diversos paternalismos e declarações pomposas de combate à pobreza, enquanto estruturalmente se aprofundam e agravam as causas geradoras de pobreza material e intelectual.

«Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre, que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples facto de respirar.

Somente a perseverança fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.
»

Em: “Morre Lentamente” Pablo Neruda