terça-feira, 20 de maio de 2025

DOIS POEMAS - Apolo de Carvalho

 Abril


Se esta rua fosse nossa, 
não nos encostariam à parede
nem nos impediriam de circular livremente

Se fosse mesmo de abril, esta rua,
«em cada esquina» haveria um cravo
e nenhum fuzil seria apontado contra a liberdade

Fosse de toda a gente esta rua
nas paredes escreveríamos um poema... pacto;
contra os muros, o bastão e a coisificação
um poema... manifesto; pela dignidade, resistência e unidade
Um poema... mundo, com palavras de todas as línguas
Para saciar todas as fomes

E se fizéssemos desta rua uma casa,
onde coubessem todas as vozes, histórias e memórias,
então poderíamos dizer que «o povo é realmente quem mais ordena»,
e que a fraternidade é a nossa única nacionalidade



Benformoso

Nesta rua e noutras também, eu bem sei!
há mãos cheias de dádivas
a semear cravos de todas as cores
vindos de outras terras
Cravos que, exalando jasmim, lilases, lótus, hibiscos
dissipam o fedor sufocante
da besta morta-viva que ainda persiste
nas entranhas deste chão colonial

Nesta rua e noutras também, Saravá!
vive gente de carne e osso
 não meros documentos
nem números ou dados fiscais
Pessoas! que sentem, sonham e lutam.
pelo direito à rua
uma rua sem paredes que impedem
sem muros que separam
pela vida,
uma vida mais digna...
mais justa


Transcritos de: MAPA / JORNAL DE INFORMAÇÃO CRÍTICA / ABRIL-JUNHO 2025

Nota: em ABRIL: A POESIA SAIU À RUA... FOI A ALEGRIA, A IMAGINAÇÃO, A CRIATIVIDADE... O INICIO DA LIBERDADE, DA FRATERNIDADE, DA SOLIDARIEDADE E DA CONSTRUÇÃO DO MUITO QUE FALTAVA...    
em novembro foi: o estado de sítio, o recolher obrigatório, confinamento e proibidos direitos como, por exemplo: reunião, manifestação, ajuntamentos, etc., ainda que temporário, de então para cá nada voltou a ser o que fora, nem semelhanças, antes pelo contrário, as semelhanças são, cada vez mais, com o 24 de Abril de 1974...